Piuco, T.; Pinho, R.; Poletti, C. y Famer, C. (2021). Diferentes modos de existencia en posgrado:
prácticas de cuidado entre salud y educación. Cuestiones de Filosofía, 7 (29), 101-119.
https://doi.org/10.19053/01235095.v7.n29.2021.13251
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aluno/a/e. Não há um único modo, o que há são modos singulares de afirmar-
se, de viver e existir. O que há, é uma pluralidade de formas, e não uma única
forma que, ao passo que se consolida, se converte em fórmula a ser seguida,
obrigatória e forçosamente.
Em aliança com devir-negro, devir-mulher, devir-gay, devir-trans, devir-
bicha, fabulamos uma escola com/junto –por isso um empreendimento
confabulatório– onde se possa produzir existência ou ainda, como pensou
Lapoujade (2017), dar realidade às existências que não possuem legitimidade
perante às demais. Essas, em particular, sequer adquirem status de existência;
pois são invisíveis, não porque não existam, mas porque passam por um
processo de invisibilização. O autor questiona: “tornar mais reais certas
existências, dar a elas uma posição ou um destaque particular, não é um
meio de legitimar sua maneira de ser, de lhes conferir o direito de existir sob
determinada forma?” (p. 23).
Em especial, chamamos a atenção para as experiências dissidentes do
sistema sexopolítico vigente, são as “multidões queer” de que fala Preciado
(2011). Existências desviantes de um regime cisnormativo, tais como
travestis, mulheres e homens trans, pessoas não-binárias, intersexuais, ou
ainda as que se identificam como “queer”, bem como as experiências de fuga
à heteronormatividade –gays, lésbicas, bissexuais, assexuais. Relembrando
um dos principais conceitos para Deleuze, trata-se, na visão de Preciado,
de um “trabalho de desterritorialização da heterossexualidade, do espaço
urbano, espaço majoritário e do espaço corporal (...) [que] obriga a resistir
aos processos do tornar-se ‘normal’” (p. 14).
Com Foucault (2014), podemos afirmar que se trata de um desejo de construir
suas próprias verdades, ao invés de se sujeitar aos discursos im-postos, ou
seja, incutidos para “dentro”, em processos de subjetivação mais ou menos
violentos, ora sutis, ora mais aparentes. Cada sociedade tem seu regime de
verdade, sua “política geral” de verdade: isto é, os tipos de discurso que
ela acolhe e faz funcionar como verdadeiros (2014). Nesse sentido, algumas
existências estão relegadas sob o trágico e indefensável discurso de que são
falsas, incompletas, infundadas. Não são verdadeiras, uma vez que não estão
dentro do que se convencionou como verdade. Não são completas, pois algo
lhes falta. Não possuem fundamento, pois não há nada que lhes confira base,
origem, proveniência. São contestadas quanto ao seu “real” sentido de ser:
por que existem se não há porquê?