https://doi.org/10.19053/uptc.01227238.18283

Artículo de revisão

 

 

Cinquante Jours au Brésil: relatos da Viagem de Édouard Claparède (1930)[1]

Cinquante Joursau Brésil: Informes sobre el viaje de Édouard Claparède (1930)

Cinquante Jours au BrésilReports on Édouard Claparède’s Journey (1930)

 

 

Laís Paula de Medeiros Campos Azevedo[2]*  https://orcid.org/0000-0003-3274-5798

 

Olívia Morais de Medeiros Neta[3]*  https://orcid.org/0000-0002-4217-2914

 

*Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN, Brasil

 

Resumo

Objetivo: Este artigo objetiva analisar o relato da viagem realizada pelo psicólogo e médico suíço Édouard Claparède, no ano de 1930ao Brasil. Sobre essa viagem, Claparède publicou um relato intitulado Cinquante jours au Brésil na Revista L’Intermédiaire dês Educateurs do Instituto Jean Jacques Rousseau, em abril de 1931.

Originalidade: Na historiografia da educação brasileira, diversos trabalhos dedicam-se as viagens realizadas por brasileiros para conhecer e estudar em outros países. Nesse estudo, nos propomos ao percurso inverso: os europeus em viagens pedagógicas ao Brasil.

Método: Nosso aporte teórico-metodológico, é formado, principalmente, pelas contribuições de Michel de Certeau (1982, 2017) e Jean François Sirinelli (2003). E Carlo Ginzburg (2007) nos indica o caminho da pesquisa por meio do paradigma indiciário.

Estratégias/Coleta do dados: Ao analisar o relato de viagem, intencionamos responder aos seguintes questionamentos: quais os sentidos do relato da viagem de Claparède ao Brasil? qual o percurso da viagem e quais as impressões do intelectual? Ao ampliar nosso olhar sobre o documento, nos voltamos ainda para os registros encontrados na imprensa brasileira.

Conclusão: As pistas deixadas por Claparède em seu relato apontam, por exemplo, para o percurso do intelectual, seu lugar de origem, não apenas a cidade ou país, mas sua filiação institucional, bem como o suporte escolhido para o registro e publicização da viagem; para a existência de uma troca de correspondências com intelectuais brasileiros, além da sua relação de amizade e profissional com Hélène Antipoff, psicóloga e educadora russa, radicada no Brasil.

Palavras-chave: Édouard Claparède; educação nova; Instituto Jean Jacques Rousseau; viagens pedagógicas.

 

Resumen

Objetivo: Este artículo pretende analiza rel relato del viaje realizado por el psicólogo y médico suizo Édouard Claparède a Brasil en 1930. Sobre este viaje, Claparède publicó un informe titulado Cinquante jours au Brésil en la revista L’Intermédiaire des Educateurs del Instituto Jean Jacques Rousseau, en abril de 1931.

Originalidad/aporte: En la historiografía de la educación brasileña, varios trabajos están dedicados a los viajes realizados por brasileños para conocer y estudiaren otros países. En este estudio, proponemos recorrer el camino inverso: europeos en viaje pedagógico a Brasil.

Método: Nuestro marco teórico-metodológico está formado principalmente por las contribuciones de Michel de Certeau (1982, 2017) y Jean François Sirinelli (2003). Y Carlo Ginzburg (2007) nos muestra el camino de la investigación a través del paradigma indicativo.

Estrategias de recolección de datos: Mediante el análisis del cuaderno de viaje, pretendemos responder a las siguientes preguntas: ¿cuáles son los significados del cuaderno de viaje de Claparède a Brasil? Cuál fue el recorrido del viaje y cuáles fueron las impresiones del intelectual? Para ampliar nuestra visión del documento, recurrimos también a los registros encontrados en la prensa brasileña.

Conclusión: Las pistas dejadas por Claparède en su relato apuntan, por ejemplo, a la trayectoria del intelectual, su lugar de origen, no sólo la ciudad o el país, sino su filiación institucional, así como el medio elegido para registrar y divulgar el viaje; a la existencia de un intercambio de correspondencia con intelectuales brasileños, además de su amistad y relación profesional con Hélène Antipoff, psicóloga y pedagoga rusa radicada en Brasil.

Palabras clave: Édouard Claparède; nueva educación; Instituto Jean Jacques Rousseau; viajes pedagógicos.

 

Abstract

Objective: This article aims to analyze the account of the journey undertaken by the Swiss psychologist and physician Édouard Claparède to Brazil in 1930. Claparède documented this journey in a report titled Cinquante jours au Brésil, published in the L’Intermédiaire des Educateurs journal of the Jean Jacques Rousseau Institute in April 1931.

Originality: In the historiography of Brazilian education, many studies focus on the travels of Brazilians who went abroad to learn and study. This study, however, proposes to explore the opposite trajectory: Europeans on a pedagogical journey to Brazil.

Method: Our theoretical and methodological framework is primarily formed by the contributions of Michel de Certeau (1982, 2017), Jean François Sirinelli (2003), and Carlo Ginzburg (2007). The latter guides our research through the lens of the evidentiary paradigm.

Strategies: Through an analysis of Claparèdes travel journal, we aim to answer the following questions: What are the meanings of his travel journal in the context of Brazil? What was the route of his journey, and what were his impressions as an intellectual? To broaden our understanding of the document, we also resort to records found in the Brazilian press.

Conclusion: The traces left by Claparède in his account reveal, for instance, the trajectory of the intellectual in his place of origin, his institutional affiliations, as well as the medium chosen to record and disseminate his journey. Additionally, his correspondence with Brazilian intellectuals and his friendship and professional relationship with Hélène Antipoff, a Russian psychologist and educator based in Brazil.

Keywords: Édouard Claparède; new education; Jean Jacques Rousseau Institute; pedagogical journeys.

 

Recibido: 11/02/2024

Evaluado: 14/05/2024

Aprobado: 27/07/2024

Publicado: 01/09/2024

 

Introdução

Na História da Educação, as viagens pedagógicas realizadas por educadores refletem as suas intenções de observar, conhecer, analisar, comparar, propor, divulgar, prescrever e organizar. Uma diversidade de documentos pode recontar a experiência vivenciada nessas viagens, a saber: relatórios oficiais, registros pessoais, fotos, cartas, agendas, cartões postais e relatos publicados em livros ou em periódicos. Sobretudo os relatos de viagem permitem, na pesquisa histórica, viajar e transitar pelos mesmos espaços que o viajante percorreu e entender as suas intencionalidades.

Na historiografia da educação brasileira, diversos trabalhos dedicam-se as viagens realizadas por brasileiros para conhecer e estudar em outros países . Nesse sentido, o livro de Ana Chrystina Mignot e José Gondra, intitulado “Viagens Pedagógicas”[4]demonstra o interesse e a relevância dos estudos sobre a temática que vêm se ampliando nos últimos anos.

Nesse estudo, nos propomos ao percurso inverso. Nosso objetivo é analisar a viagem que o psicólogo e médico suíço Édouard Claparède realizou, no ano de 1930, ao Brasil. Claparède (1873–1940), formou-se pela Faculdade de Medicina de Genebra (1897), dedicou-se ao campo da psicologia experimental e da infância, publicando diversos livros, e foi o fundador do Instituto Jean Jacques Rousseau (IJJR), no ano de 1912, em Genebra na Suíça. Este instituto tornou-se um grande centro de formação e pesquisa que atraiu educadores de diversos países, inclusive brasileiros, nas primeiras décadas do século XX. O Instituto constituiu-se como um espaço da Educação Nova e da defesa de mudanças na educação, com o intuito de conferir um caráter científico a partir das contribuições da psicologia.

Sobre a sua viagem, o intelectual publicou um relato intitulado CinquantejoursauBrésil na Revista L’Intermédiaire desEducateurs do IJJR na edição de abril de 1931. Neste estudo, intencionamos responder aos seguintes questionamentos: quais os sentidos do relato da viagem de Claparède ao Brasil? qual o percurso da viagem e quais as impressões do intelectual? Compreendemos conforme apontado por Mignot que as viagens “não começam no dia da partida e não se encerram na hora da chegada. Daí a importância de interpretar os viajantes, os contextos, as motivações, as finalidades e as repercussões de cada travessia”[5].

Assim, a partir do seu relato, buscamos identificar detalhes sobre a sua travessia, os lugares que visitou e os sujeitos que encontrou. Ao ampliar nosso olhar sobre o documento e, consequentemente, sobre a viagem, nos voltamos ainda para a busca de registros sobre a viagem e sobre o intelectual na imprensa brasileira. Nesse intuito, utilizamos as fontes disponíveis na Hemeroteca Digital Brasileira.

Nosso aporte teórico-metodológicoé formado, principalmente, pelas contribuições de Michel de Certeau[6]e Jean François Sirinelli[7]. Carlo Ginzburg[8], por sua vez, nos indica o caminho da pesquisa por meio do paradigma indiciário. Analisamos o relato da viagem em busca das pistas deixadas por Claparède que nos possibilitem responder aos questionamentos elencados neste estudo.

Em vista disso, organizamos este artigo em quatro partes. Após essa introdução, apresentaremos o viajante, seus traços biográficos e percurso profissional. Em seguida, nos deteremos à viagem e, especificamente, sobre o relato da viagem. Ao nos debruçarmos sobre este documento, após já ter respondido à questão do quem escreve? buscamos identificar onde escreve? Por que escreve? O que escreve? Ao final, traremos algumas considerações sobre a pesquisa.

O Viajante

Édouard-Jean Alfred Claparède que nasceu em Genebra, em 24 de março de 1873, e faleceu em 29 de setembro de 1940. Claparède tornou-se conhecido como médico, neurologista, psicólogo e professor. O intelectual formou-se pela Faculdade de Medicina de Genebra (1897) e se dedicou, sobretudo, ao campo da psicologia, seguindo os passos de seu primo ThéodoreFlournoy (1854-1920). Flournoy foi o criador da cadeira extraordinária de Psicologia Experimental na Faculdade de Ciências de Genebra, e Claparède tornou-se assistente em seu laboratório de psicologia, iniciando assim o seu caminho na área[9].

Auxilia-nos na compreensão da trajetória de Claparède, o conceito de intelectual desenvolvido por Jean François Sirinelli. Com base no pensamento deste autor, o conceito de intelectual pode assumir dois sentidos diferentes de acordo com o contexto, uma acepção “ampla e sociocultural, englobando os criadores e os ‘mediadores’ culturais, a outra mais estreita, baseada na noção de engajamento”[10]. Ainda segundo o autor, uma acepção não exclui a outra, ao contrário, se relacionam, uma vez que a “notoriedade eventual ou sua ‘especialização’, reconhecida pela sociedade em que ele vive - especialização esta que legitima e mesmo privilegia sua intervenção no debate da cidade-, que o intelectual põe a serviço da causa que defende”[11].Ao longo desse estudo, a figura de Claparède emerge como um intelectual criador e mediador cultural, profundamente engajado no campo educacional e da psicologia.

Seguindo os rastros apontados por Bovet[12], nos deparamos com uma publicação de Claparède intitulada Quelques MotssurleCollège de Genève, na qual o autor se posiciona como aluno e se propõe a algumas observações sobre o ensino escolar diante da necessidade de que os administradores ouçam os alunos e que os professores deveriam conhecer as críticas realizadas pelos alunos e ressalta que “tendemos a esquecer que as aulas são feitas para os alunos e não os alunos para as aulas”[13].

Em seu relato autobiográfico, publicado em inglês no primeiro livro da série intitulada A History ofPsychology in Autobiography[14], Claparède apresenta elementos sobre sua família, sua infância, seu percurso acadêmico e profissional e suas percepções acerca da psicologia. A partir de Certeau [15], podemos refletir que o discurso do intelectual presente no livro é um texto direcionado aos seus “pares”. Este aspecto é evidenciado, por exemplo, quando Claparède considera que haveria outros eventos que poderiam ser mencionados em seu texto, “mas o espaço ainda à minha disposição deve ser empregado para responder algumas perguntas, a pedido dos editores deste volume. E, em primeiro lugar, o que eu acho da minha contribuição para a psicologia ?[16]”.

Nas palavras de Claparède, identificamos que sua família era de protestantes, em sua maioria, clérigos ou magistrados, inclusive, seu pai deixou a função religiosa para estudar a história do protestantismo logo após seu nascimento. Ele era o mais novo de cinco irmãos, filho de pais simples e modestos. O relato traz elementos sobre a sua infância feliz em um ambiente no qual ele tinha constante contato com a natureza. Apesar de ressaltar que não havia homens de ciência entre seus ancestrais, Claparède menciona três exceções. Entre estes, um tio, irmão de seu pai, do qual havia herdado seu nome e que, segundo o autor, teria sido um dos primeiros a divulgar as ideias de Charles Darwin no continente europeu[17].

Claparède situa o ano de 1891 como um marco importante em sua vida, no qual seu primo Flournoy teve papel fundamental. Ao ouvir uma palestra sua intitulada The Soul andthe Future ofPsychology, Claparède é apresentado, pela primeira vez, ao campo da psicologia. No mesmo ano em que Claparède inicia seus estudos na Faculdade de Ciências de Genebra, seu primo começa a lecionar um curso de Psicologia Experimental na mesma Faculdade e ali estabelece o seu laboratório. O intelectual faz questão de ressaltar que este fato foi um importante marco na história da psicologia, uma vez que representava, pela primeira vez, a desvinculação oficial da psicologia em relação a filosofia e a sua constituição enquanto ciência.

Nas aulas de Flournoy, e em seu laboratório, Claparède começa a ter contato com novas experiências e teorias. Assim, desenvolve o interesse por fenômenos psicofisiológicos, conhece o psicólogo William James[18]e suas teorias. Viaja a Paris e se encontra pela primeira vez com Alfred Binet[19], de quem se tornará amigo nos anos seguintes. O texto de Claparède menciona outros lugares onde esteve, outros estudiosos, médicos, neurologistas e psicólogos que conheceu, com os quais construiu relações e iniciou estudos.

Assim, descobrimos que ele estudou um semestre na Alemanha, quase fez um curso no laboratório de Wilhelm Wundt em Leipzig, tornou-se membro da Society ofZofingue, casou-se com HèleneSpir, concluiu a faculdade, passou um ano em Paris, durante o qual se tornou um amigo íntimo de Binet, antes de retornar para Genebra em 1899, quando passou a trabalhar no Laboratório de Psicologia com seu primo e ministrar um curso sobre sensações na Universidade.

Claparède[20]explica o início do seu interesse pelo campo da psicologia aplicada à educação a partir da criação de classes para crianças atrasadas e subnormais[21], em Genebra, para as quais os professores não se sentiam preparados e teriam o procurado em busca de conselhos.Diante da sua falta de conhecimento sobre a temática, Claparède busca compreender aquela realidade, inclusive, viajando até Bruxelas onde Jean Demoor e OvideDecroly[22] se dedicavam a mesma temática. A partir dos seus estudos, Claparède elabora um relatório para o Departamento de Educação de Genebra e, em 1901, realiza uma palestra na qual reivindica L’écolesur mesure, a escola sob medida. Sobre este aspecto, Bovet [23]ressalta que

Não é surpreendente ver que, como em Bruxelas (Decroly), como mais tarde em Paris (Binet) e em Roma (Montessori), foi também em Genebra que as crianças anormais[24] desencadearam em poucos anos as correntes de pensamento para a reforma da escola, tão característica dos primórdios do século XX[25].

Essa constatação de Bovet aproxima-se do que Jean Houssaye[26] discute em relação ao movimento de importação-exportação das pedagogias. Para o autor[27], existem ondas de fundo envolvidas, “os países entram no movimento de difusão das ondas pedagógicas, segundo temporalidades que diferem entre si, porém com percursos bastante idênticos”.

À medida que Claparède constrói o seu relato autobiográfico, o intelectual faz questão de ressaltar a influência de outros intelectuais e das suas ideias. Notadamente, entre as influências sobre o pensamento do autor, é possível destacar a de William James no que se refere a essa perspectiva, tendo em vista que este é considerado o fundador da Psicologia Funcional.

Em seu livro “A Educação funcional” (1931), o autor se propõe a apresentar as origens da psicologia funcional na relação com a educação. Além de William James, Claparède considera como parte dessa genealogia, as contribuições de John Dewey, Karl Groos e Sigmund Freud. Entre as diversas obras produzidas por Claparède, Daniel Hameline[28]destaca os seguintes livros e artigos publicados no Brasil: A escola e a psicologia experimental (1928), O sentimento de inferioridade na criança (1931), A educação funcional (1933), Psicologia da Criança e Pedagogia Experimental (1934), A escola sob medida (1959) e Invenção dirigida: o mecanismo psicológico da invenção (1973)[29].

De acordo com Droux et al[30], Flournoy e Claparède fundaram, em 1901, a revista Archives de Psychologie com o intuito de “discutir os conhecimentos psicológicos e pedagógicos disponíveis no mundo”. O intelectual dirigiu esta revista até o ano de seu falecimento. Ainda em 1901, nasce seu filho, Jean-Louis. Em 1904, Claparède assume a direção do Laboratório no lugar de Flournoy, dedica-se a experimentos e aproxima-se da psicologia aplicada defendida por Alfred Binet e Willian Stern[31]. Em 1908, Claparède se torna professor de Psicologia Experimental na Universidade de Genebra.

Destarte, é para a psicologia educacional que Claparède irá se voltar nos anos seguintes. De acordo com o autor,

A educação, exatamente como a ciência médica, é uma técnica que pode ser fundada apenas no conhecimento, e isso só pode ser dado pela observação e experimento. Mas o psicólogo não está bem colocado para construir, por si mesmo, esta ciência da criança que é tão necessária à pedagogia, pois não tem à sua disposição as crianças de que necessita. Portanto, os professores das escolas devem estar preparados para reunir os materiais necessário para a psicologia genética.[32]

No intuito de propiciar essa formação aos professores, Claparède começa a alimentar a ambição de criar um instituto especial para a psicologia aplicada à educação, sem ligação com o Estado e com a Universidade.Constatamosque esse interesse pela educação, a partir de uma perspectiva científica, era partilhado por muitos outros sujeitos em Genebra. Segundo Claparède, naquele momento, Ferrière estavadefendendo o movimento ‘Escola Nova’; Aug. Lemaitre estudavaadolescentes; Alice Descoeudresestavaverificandoos testes de Binet; e as senhoritas Audemars e Lafendel tentavamintroduzirreformasnosjardins de infância, ondeensinavam[33].

O exposto por Rita Hofstetter (2010), [34]corrobora com essa constatação de Claparède, uma vez que a autora situa a virada do século XIX para o século XX como um momento em que o pensamento sobre a educação e a infância são transformados. Segundo a autora.

É neste contexto de efervescência pedagógica, intelectual e científica que se propaga a ideia de que um melhor conhecimento da infância é essencial para melhorar as práticas educativas e que é possível e mesmo necessário construir uma nova ciência sobre este assunto[35].

O Instituto Jean Jacques Rousseau começou a funcionar em 21 de outubro de 1912, na cidade de Genebra, Suíça, com o nome em homenagem ao bicentenário de nascimento do filósofo e cidadão daquela cidade. A trajetória de Claparède à frente do Instituto e o destaque internacional que adquire são importantes para compreendermos os caminhos que conduziram o intelectual para a sua viagem ao Brasil, sobre a qual nos debruçaremos no próximo tópico.

O Relato da Viagem

Criado em outubro de 1912, L’Intermédiaire desEducateurs, tinha como objetivo constituir-se como uma extensão do espaço do Instituto. Sua finalidade, apresentada pelo diretor Pierre Bovet, seria

contribuir para a construção de uma pedagogia positiva, por um lado iniciando aqueles que gostariam de colaborar conosco nas questões que surgem e nos métodos para resolvê-las, por outro lado servindo de elo entre esses pesquisadores, e agrupando e coordenando suas investigações ou resultados[36].

Compreendemos que o periódico constituir-se-ia como um espaço de sociabilidade, no qual laços deveriam ser construídos. Nesse sentido, nos pautamos no pensamento de Sirinelli que ressalta a importância das revistas como um espaço que permite a compreensão do meio intelectual. De acordo com este autor,

As revistas conferem uma estrutura ao campo intelectual por meio de forças antagônicas de adesão - pelas amizades que as subtendem, as fidelidades que arrebanham e a influência que exercem - e de exclusão - pelas posições tomadas, os debates suscitados, e as cisões advindas. Ao mesmo tempo que um observatório de primeiro plano da sociabilidade de microcosmos intelectuais, elas são aliás um lugar precioso para a análise do movimento das idéias. Em suma, uma revista é antes de tudo um lugar de fermentação intelectual e de relação afetiva, ao mesmo tempo viveiro e espaço de sociabilidade, e pode ser, entre outras abordagens, estudada nesta dupla dimensão [37].

Bovet[38] aponta que o periódico passou por três fases, sendo a primeira de outubro de 1912 a julho de 1914; a segunda, imposta pela Primeira Guerra Mundial, até dezembro de 1920; e, a terceira, iniciou em janeiro de 1921 e terminaria em dezembro de 1932.A terceira fase corresponde a fusão do periódico com L´Educateur, revista da Société pédagogique de la SuisseRomande, criada no ano de 1865[39]. Com a aproximação do Instituto com a Sociedade, Bovet foi nomeado como diretor do periódico. A cada dois meses, L´Educateur teria uma edição especial dedicada à psicologia da criança e à pedagogia experimental.

Intitulado CinquantejoursauBrésil, o relato da viagem de Claparède foi publicado na Revista L´Éducateur, correspondente ao número 140 do periódico L’Intermédiaire desEducateurs de 11 de abril de 1931 (FIGURA 01).

 

Fonte: L´Éducateur[40]

Figura 1. Página inicial L´Intermédiaire desEducateurs – (1931)

 

O relato corresponde às seis primeiras páginas do impresso. A escolha por escrevernesse periódicosobre a sua viagem ao Brasil é justificada pelo fato de a intencionalidade da revista ter sido, desde o princípio, a construção de um espaço de troca entre os interessados pela Psicologia e pela Educação. Assim, podemos perceber que Claparède conta aos seus pares como foram esses cinquenta dias no Brasil. Na análise, assumimos a proposição de Ginzburg[41]de que o pesquisador “escavando os meandros dos textos, contra as intenções de que os produziu, podemos fazer emergir vozes incontroladas”.

Nos números correspondentes à 1931[42], encontramos dois outros relatos de viagens escritos porBovet: “Cinco dias em Varsóvia”[43]e “Com os educadores da Catalunha – na escola de verão de Barcelona”[44]. Nesse mesmo número, encontramos o texto intitulado “Congresso Internacional da Infância – em Paris[45]”, escrito por Robert Dottrens, que relata o que aconteceu no referido Congresso para o qual uma delegação do IJJR havia viajado. A existência desses textos se configura como indícios de que que os relatos de viagens e das ações dos professores do IJJR em outros países faziam parte das tendências de publicação do impresso.

Ao nos voltarmos para o texto de Claparède, identificamos que não se trata de um relatório oficial, mas de um texto narrativo em que se sobressai o caráter subjetivo. Ao registrar a sua experiência pessoal, as memórias sobre as suas vivências passam a compor a história do periódico e do IJJR. Nos propomos a acompanhá-lo em sua viagem, identificar os espaços que visitou e os sujeitos que encontrou. Certeau[46], ao considerar que todo relato é um relato de viagem e uma prática de espaço, aponta que “essas aventuras narradas, que ao mesmo tempo produzem geografias de ações e derivam para os lugares comuns de uma ordem [...]. De fato, organizam as caminhadas. Fazem a viagem antes ou enquanto os pés a executam”.

Claparède aponta que o seu objetivo era passar apenas quatro semanas no Brasile que o destino fez com que isso não acontecesse. Sobre a viagem,apresenta

Meu objetivo, ao ir para lá, era tanto conhecer pessoalmente colegas amigáveis ​​que eu já conhecia por correspondência e que me convidaram para dar algumas palestras, e rever ex-alunos, e principalmente visitar a Sra. Antipoff que havia organizado em Belo Horizonte um ensino de psicologia experimental e escolar[47].

Hélene Antipoff (1892 – 1974) foi uma psicóloga e educadora russa. Estudou em São Petersburgo e na França e, em Genebra, fez parte da primeira turma do IJJR em 1912, e, como aluna, ficou responsável pela educação das crianças na Maison desPetits, escola de aplicação do IJJR fundada em 1913. Entre 1925 e 1926, ela retorna ao IJJR como assistente no laboratório de Psicologia experimental e se torna parte do corpo docente.

Antipoff fez parte de uma embaixada pedagógica contratada pelo Governo de Minas Gerais em 1929, para atuar na Escola de Aperfeiçoamento de Belo Horizonte. Sobre a sua chegada ao Brasil, Campos[48] aponta que “Helena Antipoff, contratada para lecionar a disciplina psicologia educacional na Escola de Aperfeiçoamento, assumiu também as funções de montar e dirigir o Laboratório de Psicologia Experimental”[49]. De acordo com a autora, a intelectual permaneceu no país e obteve a cidadania brasileira em 1951.

De acordo com Martine Ruchat[50], Antipoff inicia uma troca de correspondências com Claparède no ano de 1915 até 1940. A partir do estudo que a pesquisadora faz sobre essas correspondências, Ruchat[51]afirma haver uma relação intelectual e afetiva entre os dois educadores.

Em “O Jornal” (RJ), de 10 de setembro de 1930, encontramos a notícia intitulada “A próxima visita do professor Clapared ao Brasil”. No texto, Hélene Antipoff é apresentada como a “discipula do eminente psychologosuisso” e um “dos seus mais queridos colaboradores” a quem o jornal procurou para a realização da reportagem e que trazia traços biográficos do educador (FIGURA 02).

 

Fonte: O Jornal (RJ). 10 de setembro de 1930[52].

Figura 02. Recorte de “O Jornal” (1930)

 

Em 02 de setembro de 1930, o intelectual deixou Genebra a bordo do navio italiano Conte Rosso com destino ao Brasil, com a pretensão de também nele retornar no dia 25 de outubro, para chegar a tempo do início das aulas na Universidade. Sobre a travessia, Claparède aponta que levou apenas onze dias para chegar ao Rio de Janeiro, que encontrou, em um professor da Faculdade de Medicina de Paris, o companheiro encantador para a viagem e que não foi tão quente quanto pensava, ficando inclusive resfriado. Esses elementos denotam a linguagem leve, pessoal e subjetiva que o intelectual deseja conferir a sua escrita. Sobre sua chegada, ele conta que

Apesar da hora tardia [meia noite], muitos amigos estavam esperando por mim no cais. Sr. Lins, professor da Escola Normal de Juiz de Fora, e Sra. Lins, que passou vários anos no Institut J.-J. Rousseau; Senhorita Laure Lacombe, também ex-aluna; Dr. Lopes, presidente da Liga Brasileira de Higiene Mental; Dr. F. Magalhães, e Dr. Lessa e Professor Venanzio Filho, Presidentes da Associação Brasileira de Educação; Dr. Radecki, que havia sido meu assistente no Laboratório de Psicologia em 1910, M. Redard, encarregado de negócios da Legação Suíça, etc. Isso significa que assim que desembarquei neste novo continente, tive a sensação de estar em casa”[53].

Este relato revela o entrelaçamento e as conexões transnacionais de intelectuais e instituições, sujeitos que viajaram e constituíram redes de educadores[54]. O primeiro nome citado é do professor Francisco Lins, que fez parte da primeira turma do IJJR no ano de 1912. De acordo com Daise Santos[55], Lins foi aluno entre 1912 e 1915. Laura Jacobina Lacombe, por sua vez, esteve no Instituto no ano de 1925[56], durante o semestre de inverno, com o intuito de aprimorar a sua formação e se preparar para assumir o colégio criado pela sua mãe, Isabel Jacobina Lacombe.

Claparède menciona representantes de duas instituições: a Liga Brasileira de Higiene Mental, criada em 1923 e, a Associação Brasileira de Educação (ABE), criada em 1924. Sobre esta última, Claparède[57] destaca que

[...] é muito ativa, muito animada, reúne mil membros; seu objetivo é estudar tudo o que pode ajudar a educação a progredir e instar as autoridades a introduzir as reformas desejadas. Tem quatro presidentes, cada um responsável por um trimestre. Destes quatro presidentes, três são médicos. Quando cheguei, estava na cadeira o Dr. Magalhães[58], um dos cirurgiões mais populares do Rio e reitor da Faculdade de Medicina. Suas inúmeras ocupações (ele também é presidente do Jockey Club) não o impedem de dedicar atenção especial às questões da educação[59].

Compreendemos quefoi a convite da ABEque Claparède viajou até ao Brasil para realizar uma série de conferências, embora a visita a sua ex-aluna e assistente tenha papel fundamental nessa viagem. Na edição de 14 de setembro de 1930, “O Jornal” (RJ), traz em sua primeira página, a reportagem “Um eminente pedagogo suisso hospede no Rio – o professor Claparède, vindo hontem pelo ‘Conte Rosso’, concede rápida entrevista a O Jornal”. A reportagem traz uma imagem do intelectual e, após apresentar breves traços biográficos sobre Claparède, transcreve a sua fala

Ha muito alimento o desejo de visitar o Brasil de que tantas e tão boas noticias me vão ter as mãos, enviadas que são por antigos discípulos que aqui residem. Tive sempre esperança de realizar essa viagem, não o fazendo, há mais tempo, em virtude dos afazeres incontáveis que me impossibilitaram deixar a Suissa. Quando, porém, se me apresentou oportunidade não vacilei em aceitar o convite que me foi feito por carta dirigida pelo Sr. Gustavo Lessa. E parti incontinente para cá, onde afinal chego cheio de satisfação[60].

Gustavo de Sá Lessa[61] (1888-1962) foi um médico e sanitarista mineiro. Fez parte da presidência da ABE a partir do ano de 1929[62]. A partir do seu relato de Claparède, identificamos que existiam trocas de correspondências com intelectuais e instituições brasileiras. De acordo com Ruchat (2008), Claparède recebeu outros três convites para atuar no Brasil, em 1921, em 1932, por convite de Lourenço Filho e, em 1935, novamente, pelo médico Gustavo Lessa.

Outro de seus antigos alunos presentes foi WaclawRadecki, psicólogo polônes, que estudou Psicologia com Flournoy e Claparède na Faculdade de Genebra. Conforme apontado por Claparède, ele se tornou assistente no Laboratório de Psicologia Experimental no ano de 1910. De acordo com Perdomo, Mignot e Santos[63], Radecki fundou, no ano de 1924, um Laboratório de Psicologia, na Colônia de Psicopatas em Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro. Este laboratório deu origem a um Instituto de Psicologia, em 1932, e que, mais tarde viria a se tornar o Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Claparède menciona que “foi levado” a muitas escolas que, na sua percepção, adotavam métodos ativos, e que eram situados em belos prédios. O Colégio Jacobina[64], dirigido por Laura Lacombe e sua mãe, Isabel Jacobina Lacombe, é apontado pelo intelectual como um exemplo de escola inspirada nos novos métodos. Sobre esta escola, Claparède comenta que “sentimos que a felicidade reina ali[65]”.

Claparède destina algumas linhas a descrever as características arquitetônicas do prédio que iria situar a nova Escola Normal e a elogiar as suas instalações. Visitou a Escola Normal de Artes e Ofícios Wenceslau Braz[66] e fez questão de nomear o seu diretor, Barbosa de Oliveira, e a professora que ministrava as aulas de psicologia, D. Alba Nascimento. Seu itinerário no Rio incluiu ainda uma visita ao Instituto Oswaldo Cruz[67] e ao Jardim Botânico.

Essas visitas são divulgadas nos jornais cariocas conforme identificamosem “O Jornal’ (RJ) de 20 de setembro: “O prof. Claparede visita a Escola Wenceslao Braz”. De acordo com esta notícia, a visita teria durado três horas, durantes as quais o “illustrescientista percorreu as aulas de sciencias e línguas e de officnas, mostrando-se satisfeito com a organização de tão importante instituto de ensino technico, moral e profissional”[68].

Em relação aos espaços associados à psicologia, Claparède relata que

Quanto à psicologia experimental, tem um simpático pequeno laboratório na sede da Liga Brasileira de Higiene Mental, presidido com distinção pelo Dr. Ernani Lopes. Dr. Radecki também montou um bom laboratório de psicologia em uma colônia de psicopatas, no interior, a alguma distância do Rio[69].

Pelo seu texto, não conseguimos identificar se o intelectual chegou a visitar o laboratório organizado por Radecki ou apenas quis sinalizar a sua existência. No entanto, de acordo com Centofanti[70], essa visita teria acontecido. Claparède não tece mais comentários sobre o laboratório[71] existente na da Liga. Sua escrita é polida e, se compararmos a outros espaços sobre os quais o intelectual teceu elogios, podemos inferir que este não o impressionou.

Após uma semana no Rio, Claparède se encaminhou para a sua próxima parada: Belo Horizonte, Minas Gerais. Ele descreve brevemente o trajeto e compara a cidade à uma cidade da Suíça, também cercada por montanhas. Notadamente, percebemos que sua visita a Belo Horizonte ocupava um lugar central em sua viagem.

O Estado de Minas fundou em Belo Horizonte, há dois anos, uma Escola de Aperfeiçoamento de um tipo novo e muito interessante. Foi para estabelecer as bases dessa escola que o Dr. Simon, de Paris, e nosso colega Leon Walther já haviam ido ao Brasil por alguns meses, e que a Sra. Artus e a Sra. Antipoff foram chamadas para lá por um período maior. O objetivo desta Escola Avançada é formar inspetores, diretores de escolas, professores de psicologia educação para as Escolas Normais, altos funcionários da administração das escolas de Minas. [...] O curso tem duração de dois anos e inclui aulas especiais de pedagogia e psicologia (jardim de infância, metodologia, especialmente psicologia aplicada à prática escolar). Como professoras, além de três jovens brasileiras formadas no TeachersCollege de Nova York, Sra Antipoff e Sra Artus (de Genebra), e também o Sr. Casasanta, Diretor de Educação Primária, que preside os destinos desta Escola de aperfeiçoamento com muita inteligência e clarividência [72].

Claparède tece elogios ao trabalho que Antipoff estava desenvolvendo naquela escola. O intelectual menciona ainda o nome de outro brasileiro e o apresenta como defensor dos novos métodos, o então professor da Escola Normal de Santos Lourenço Filho, que teria visitado ele em Belo Horizonte. Neste ponto, o intelectual relata o acontecimento que fez com que seus planos de retorno fossem interrompidos: a Revolução de 1930. Claparède narra um fato importante na História Política do Brasil àpartir da sua vivência naquele momento e das informações que tinha acesso, fala dos cinco dias em que as pessoas não podiam mais circular, pois “a cidade foi inundada em balas”[73].

Apenas após pouco mais de três semanas Claparède pode retornar ao Rio de Janeiro. Lá, encontrou a professora Louise Artus Perrelet, contratada pela Escola de Aperfeiçoamento que também ficou impossibilitada de voltar a Belo Horizonte durante aquele período. De acordo com o intelectual, ela desenvolvia naquele momento uma série de jogos educativos em português.

Claparède conclui mencionando que Adolphe Ferrière teria chegado ao Brasil quando a Revolução eclodiu, o que teria o impedido de desembarcar; fala da sua angústia em não estar no início do semestre na Suíça para as aulas da Universidade, mas que conseguiu, finalmente, embarcar no dia 02 de novembro. O intelectual afirma, por fim, que se sentia “feliz com essas poucas semanas passadas em meio a tantas coisas interessantes, com essa natureza esplêndida, com todos esses amigos, antigos e novos, que tornaram tão agradável minha estada no Brasil[74]”.

Embora o intelectual não se dedique a falar sobre as conferências que realizou, conseguimos identificar na imprensa alguns indícios. O jornal “Diário de Notícias” (RJ), de 18 de setembro de 1930, publicou uma reportagem sobre a primeira conferência de Claparède na ABE realizada no dia anterior: “O sentimento de inferioridade na criança”. De acordo com a notícia, essa seria a primeira de uma série de conferências[75].

Sobre esta primeira conferência, “O Jornal” (RJ) de 19 de setembro do mesmo ano, destaca que “a assistência, além de numerosa, excedendo à capacidade da sala da Associação, era seleccionada, sendo de notar a presença de psychiatras e psychologos de renome, de varias professoras das escolas municipaes e de pedagogos reputados”[76]. A mesma conferência foi ministrada no Teatro Municipal de Belo Horizonte em 23 de setembro, e o texto foi publicado na Revista do Ensino de Minas Gerais na edição correspondente aos meses de janeiro a março de 1931. Um exemplar dessa revista integra o compilado de texto escritos por Claparède e que está disponível nos Arquivos do Instituto Jean Jacques Rousseau[77].

Encontramos outras notícias sobre duas conferências realizadas na ABE nos dias 31 de outubro e 01 de novembro: “A psicologia da escola ativa” e “Institutos de Educação”, respectivamente[78]. As notícias mencionam ainda que o intelectual receberia o título de sócio correspondente da Liga Brasileira de Higiene Mental antes de sua partida.

Conclusões

Notadamente, o relato de Claparède constitui-se com um fio em nossa pesquisa. As notícias e reportagens presentes na imprensa, por sua vez, configuram-se como os rastros da viagem do intelectual ao Brasil em 1930. Nos limites deste texto, buscamos compreender os sentidos dessa viagem.

Seu percurso no Brasil compreendeu as cidades do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte que o intelectual descreve aos leitores do periódico do Instituto Jean Jacques Rousseau. Compreendemos que Claparède viaja ao Brasil a partir do convite realizado pela ABE. Destarte, a visita a sua antiga aluna Hélène Antipoff possuiu um papel importante nesse itinerário.

Desde o título, o intelectual chama a atenção para o período que esteve no país e ganha destaque em seu texto, especialmente, a história da Revolução de 1930 a partir das suas vivências em Belo Horizonte. A narrativa assemelha-se a de uma aventura inusitada que o coloca envolto nos acontecimentos.

A partir de seu relato, é possível identificar redes constituídas entre a ABE e o IJJR, entre intelectuais brasileiros e professores do Instituto. Na construção dessa rede, evidencia-se o papel de ex-alunos, entre estes, os brasileiros que estiveram no Instituto nas décadas anteriores e que parecem constituir-se como elos. Do seu texto emergem nomes importantes da história da educação brasileira, sobretudo, relacionados ao movimento da Escola Nova no período, como o de Lourenço Filho. Do mesmo modo, os espaços que visitou possuem relações com a ideia de modernidade educacional que se buscava no período. É importante ressaltar também que se evidencia a participação de professores do Instituto na construção das bases da Escola de Aperfeiçoamento de Minas Gerais.

Notícias sobre a presença do intelectual no Brasil ocuparam as páginas dos jornais e revistas demonstrando o destaque e o reconhecimento atribuído a Claparède no campo educacional. As conferências realizadas versavam sobre o estudo da criança, a psicologia da escola ativa e os Institutos de Educação. Destarte, destacamos que a maior parte das fontes utilizadas foram produzidas no Rio de Janeiro. Ao finalizarmos nosso texto, reconhecemos a necessidade de prosseguir com a pesquisa no intuito de buscar novas fontes que nos forneçam elementos para compreender o conteúdo dessas palestras e a repercussão da visita de Claparède em Minas Gerais.

Contribuição dos autores:

Laís Paula de Medeiros Campos Azevedo: investigação, concetualização, metodologia, visualização, escrita (rascunho e original); Olívia Morais de Medeiros Neta: investigação, concetualização, escrita (rascunho e original).

Financiamento

Sin financiación

Conflito de interesses

Los autores declaram não ter conflitos de interesse.

Implicações éticas

Los autores declara que este artigo não tem implicações éticas na sua redação ou publicação.

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Cómo citar este artículo: De Medeiros Campos Azevedo, Laís Paula; De Medeiros Neta Olívia Morais “Cinquante Jours auBrésil: relatos da Viagem de Édouard Claparède (1930)Revista Historia de la Educación Latinoamericana vol.26 no.44 (2024).



[1]    O artigo corresponde a um recorte da pesquisa de doutorado, a partir da qual foi publicada a tese intitulada “Travessias Brasil - Europa: o Instituto Jean Jacques Rousseau e as redes de intelectuais (1912 - 1934)” (2023).

 

[2]    Doutora em Educação (Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN). Grupo de Pesquisa História da Educação, Literatura e Gênero (UFRN) e Grupo de EstudosemTrabalho, Educação e Sociedade G-TRES (IFRN). E-mail: laispaulamedeiros@gmail.com.

 

[3]    Doutora em Educação Educação (Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN). Professora do Centro de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Grupo de Pesquisa História da Educação, Literatura e Gênero (UFRN) e Grupo de EstudosemTrabalho, Educação e Sociedade G-TRES (IFRN). E-mail: olivianeta@gmail.com.

 Correspondência/Correspondence: Laís Paula de Medeiros Campos Azevedo, Rua dos Tororós, 2398, Lagoa Nova, Natal, Rio Grande do Norte, Brasil

[4]    Mignot, Ana Chrystina Venancio e José Gonçalves Gondra, ViagensPedagógicas, (São Paulo: Cortez, 2007).

 

[5]    Ana Chrystina VenancioMignot,“Viagens e narrativas (auto)biográficas”, Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)biográfica, 2, n. 5, (2017), 263-267.

 

[6]    Michel de Certeau, A Escrita da História, (trad. Maria de Lourdes Menezes. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1982).Michel de Certeau, A invenção do cotidiano: 1. Artes de fazer, 22ed, (trad. Ephraim Ferreira Alves. Petropólis, RJ: Vozes. 2017).

 

[7]    Jean François Sirinelli, “Osintelectuais”, emPor umahistóriapolítica, eds. René Remond (Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2003)231-269.

 

[8]    Carlo Ginzburg, O fio e osrastros: verdadeiro, falso, fictício. trad. Rosa Freire d´Aguiar e Eduardo Brandão (São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2007).

 

[9]    Pierre Bovet, Vingt ans de vie. L’InstitutJ.J.Rousseau de 1912 à 1932, (Neuchâtel: Delachaux&Niestlé, 1932, 195 p). http://archive-ouverte.unige.ch/unige:36985(29 de maio de 2024).

 

[10]  Sirinelli, op.cit, 242.

 

[11]  Ibid, 243.

 

[12]  Bovet, op. Cit.

 

[13]  Édouard Claparède,« Quelques mots sur le collège de Geneve » (Librairie Stapelmour. Gèneve, 1892), emMélanges I (1892-1906)(Genebra: [sn], 1906). https://archive-ouverte.unige.ch/unige:75007(29 de maio de 2024). No original, “car on tend trop à oublier que les leçons sont faites pour les élèves et non les élèves pour les leçons”.

 

[14]  ÉdouardClaparède.“Edouard Claparède”, em A History ofPsychology in Autobiography. eds. C. Murchison, V. 1. (Clark University Press, Worcester, Mars, 1930), 63-97.

 

[15]  Certeau, op. cit.

 

[16]  Claparède, 1930, op. cit. 93. No original, “But the spacestill at mydisposal must beemployed in answering a few questions, at the request of the editors of this volume. And first of all, what do I myselfthink of my contribution to psychology ? ”

 

[17]  Claparède, 1930, op.cit.

 

[18]  Willian James (1842-1910) é responsável pela primeirasistematização americana de conhecimentos e Psicologia, aabordagemfuncionalista. Ana Mercês Bahia Bock e Odair Furtado e Maria de Lourdes Teixeira, Psicologias: umaintroduçãoaoestudo de psicologia. 13 ed (São Paulo: Saraiva, 2001).

 

[19]  Alfred Binet (1857-1911) foi um psicólogofrancês que exerceu profunda influêncianaciênciapsicológica no século XX. De acordo com Campos, Gouvea e Guimarães (2014, p. 2018), suaspesquisasconcentravam-se “sobre o funcionamento das funçõespsicológicassuperiores e sobre asdiferençasindividuaisnainteligência e nosestilos de pensamentoresultaramnaelaboração de um conjunto de instrumentos de avaliação e medida da inteligência e naproposição do conceito de idade mental”. Ele ficouconhecido pela criação de testes quantitativos e comparativosda inteligência, tevecomoparceiro de pesquisas o médico Théodore Simon.

 

[20]  Claparède, 1930, op. Cit.

 

[21]  Oautorutilizaaexpressão “special classes for backward and subnormal children”.

 

[22]  Jean Demoor (1867-1941), médico, foisecretáriogeral da Sociedade de Proteção para criançasanormais de Bruxelas e trabalhou com Ovide Decroly (1871-1932). Segundo Van Gorp, Decrolyfoi um psicopedagogo belga que adquiriurenomemundialcomo um dos pioneiros da New Education Fellowship. Ângelo Van Gorp,Da educação especial à nova: osfundamentosbiológicos, psicológicos e sociológicos do trabalhoeducacional de Ovide Decroly (1871–1932), (História da Educação 34 (2): 135–50).https://doi.org/10.1080/0046760042000338755(29 de maio de 2024).

 

[23]  Bovet, op. cit, 09.

 

[24]  Ostermosatrasados e anormaiscompunhamosdiscursos da épocarelativosàscrianças que nãocorrespondiam à normalidade da infânciaesperadasocialmente.

 

[25]  Bovet, op. cit, 09. No original, “N’est-il pas frappant de voir que, comme à Bruxelles (Decroly), comme plus tard à Paris (Binet) et à Rome (Montessori), ce sont à Genève aussi les enfants anormaux qui ont déclenché dans l’espace de quelques années les courants de pensée pour la réforme de l’école, si caractéristiques des débuts

du XX siècle”.

[26]  Jean Houssaye, “Pedagogiasimportação – exportação”, emViagensPedagógicas, eds.Ana Chrystina Venancio Mignot e José Gonçalves Gondra, (São Paulo, Cortez, 2007), 294 -314.

 

[27]  Ibid, 311.

 

[28]  Daniel Hameline, Édouard Claparède, Coleção Educadores, (Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010).

 

[29]  Claparède temumavastaproduçãointelectual. Nos AIJJR, é possívelacessar um compilado da quasetotalidade de artigospublicadospeloautor, que estãodivididosemcinco volumes e correspondemaoperíodo de 1982 a 1932.

 

[30]  JoëlleDroux et al. ArquivosInstitut J.-J. Rousseau (AIJJR): l’Éducation nouvelle enhéritage.(Hors-Texte , 2013, n° 102, 32-38). https://archive-ouverte.unige.ch/unige:86986 (29 de maio de 2024).

 

[31]  Willian Stern (1871 – 1938) psicólogoalemão, criador do conceito de quociente de inteligência (QI).

 

[32]  Claparède, 1930, op. cit, 87.

 

[33]  Ibid, 87-88. No original, “Ferriere was championing the “New School” movement; Aug. Lemaitre was studying adolescents ; Alice Descoeudres was verifying Binet’s tests; and the Misses Audemars and Lafendel were trying to introduce reforms in the kindergartens, where they taught”.

 

[34]  Rita Hofstetter, Genève: creuset des sciences de l’éducation : fin du XIXe siècle - première moitié du XXe siècle, (Genebra: Droz, 2010. Travaux de sciences sociales; 216),https://archive-ouverte.unige.ch/unige:20279. (29 de maio de 2024).

 

[35]  Ibid, 07. No original, “C’est dans ce contexte d’effervescence pédagogique, intellectuelle et scientifique que se diffuse l’idée qu’une meilleure connaissance de l’enfance s’impose pour améliorer les pratiques éducatives et qu’il est possible et même nécessaire de construire à ce propos une nouvelle science ».

 

[36]  Pierre Bovet, “Intermédiaire”, L’Intermédiaire des Educateurs, 1, n° 1, (1912), 1–2. No original, “Son but est facile à définir; il répond à ce 249lui de l’Institut dont il sera l’organe, dont il constituera en quelque sorte un prolongement dans l’espace: c’est de contribuer à l’édification d’une pédagogie positive, d’une part en initiant ceux qui voudraient collaborer avec nous, aux questions qui se posent et aux méthodes propres à les résoudre, d’autre part en servant de lien entre ces chercheurs, et en groupant et coordonnant leurs investigations ou leurs résultats ».

 

[37]  Sirinelli, op. cit.249.

 

[38]  Bovet (1932), op. cit.

 

[39]  No site da ETH LIBRARY, nasessão de revistassuíças online, é possívelacessarosnúmeros da revistaL´Éducateur de 1865 a 1981. O link para acesso é https://www.e-periodica.ch/digbib/volumes?UID=edu-001.

 

[40]  L´Éducateur. L’Intermédiaire des éducateurs n.140. (1931), 113 https://www.e-periodica.ch/digbib/view?pid=edu-001%3A1931%3A67%3A%3A39#179. (29 de maio de 2024).

 

[41]  Ginzburg (2007), op. cit., 11.

 

[42]  Tratam-sede seis números, publicadosnos meses de janeiro, abril, junho, julho, outubro e dezembro.

 

[43]  No original, “Cinq jours a Varsovie ». Publicadoem 31 de janeiro de 1931;

 

[44]  No original, “Avec les éducateurs de la Catalogne – a l´école d´été de Barcelone“. Publicadoem 10 de outubro de 1931.

 

[45]  No original, “Congrès International de l´enfance – a Paris”. Publicadoem 10 de outubro de 1931.

 

[46]  Certeau (2017), op. cit., 183.

 

[47]  Édouard Claparède, « Cinquante Jours au Brésil », L´Éducateur. L’Intermédiaire des éducateurs, n.140.(1931), 113 – 118. https://archive-ouverte.unige.ch/unige:129010 ,(29 de maio de 2024). .No original, “ Mon but, en me rendant là-bas, était à la fois de faire la connaissance personnelle d’aimables collègues que je connaissais déjà par correspondance et qui m’invitaient à faire quelques conférences, de revoir d’anciens élèves, et tout spécialement de rendre visite à Mme Antipoff qui avait organisé à Bello Horizonte un enseignement de psychologie expérimentale et scolaire ».

 

[48]  Regina Helena de Freitas Campos, Helena Antipoff, (ColeçãoEducadores. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, EditoraMassangana, 2010).

 

[49]  Ibid, 42

 

[50]  Martine Ruchat, “A Escola de psicologia de Genebra em Belo Horizonte: um estudo por meio da correspondência entre Edouard Claparède e Hélène Antipoff (1915-1940)”, Revista Brasileira de História da Educação, n.17, (2008),181-205.https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/rbhe/article/view/38583, (29 de maio de 2024).

 

[51]  Ibid.

 

[52]  “A próximavisita do professor ClaparedaoBrasil”, O Jornal (Rio de Janeiro). Hemeroteca Digital Brasileira. ed. 03628. 10 de setembro de 1930, 03.

 

[53]  Claparède (1931), op. cit. 113-114. No original, « Malgré l’heure tardive, de nombreux amis m’attendaient sur le quai: M. Lins, professeur à l’Ecole normale de Juiz de Fora, et Mme Lins, qui avaient passé plusieurs années à l’Institut J.-J. Rousseau; Mile Laure Lacombe, aussi une ancienne élève; le Dr Lopes, président de la Ligue brésilienne d’hygiène mentale; le Dr F. Magalhaes, et le Dr Lessa et le professeur Venanzio Filho, présidents de l’Association brésilienne d’éducation; le Dr Radecki, qui avait été mon assistant au Laboratoire de Psychologie en 1910, M. Redard, chargé d’affaires de la Légation suisse, etc. C’est dire qu’à peine débarqué sur ce continent nouveau, j’ai eu le sentiment du chez moi ».

 

[54]  Vera Eugenia Roldán e Eckhardt Fuchs, “O transnacionalnahistória da educação”, Educação e Pesquisa, [S. l.], 47, (2021). https://www.revistas.usp.br/ep/article/view/190580, (29 de maio de 2024).

 

[55]  Daise Santos, “Mais do que ler mil livros: os significados da viagem à Europa na trajetória de Francisco Lins (1911-1917)”, (Dissertação de Mestrado em Educação na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2020).

 

[56]  Sobreessaviagem, consultar Ana Chrystina Mignot, “Eternizandotravessia: memórias de formaçãoemálbum de viagem”, Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica,02, n.05 (2017), https://revistas.uneb.br/index.php/rbpab/article/view/3964/2513, (30 de maio de 2024).

 

[57]  Claparède (1931), op. cit. 114.

 

[58]  Fernando Augusto Ribeiro Magalhães (1878-1944), cursoumedicinanaFaculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Ocupoudiversasvezes cargos nadiretoria e presidência da ABE a partir de 1925. Carvalho (1998), Op. cit.

 

[59]  No original, “L’Association brésilienne d’ Education, qui avait bien voulu m’in viter à faire quelques conférences, et qui est très active, très vivante, réunit un millier de membres; elle a pour but d’étudier tout ce qui peut faire progresser l’enseignement, et d’engager les autorités à introduire les réformes désirables. Elle compte quatre présidents, qui sont en charge chacun pendant un trimestre. Sur ces quatre présidents, trois sont des médecins. A mon arrivée, c’était le Dr Magalhaes, l’un des chirurgiens les plus courus de Rio, et doyen de la Faculté de médecine, qui occupait le fauteuil. Ses nombreuses occupations (il est aussi président du Jockey Club) ne l’empêchent pas de vouer aux questions d’éducation une attention très suivie.”

 

[60]  “Um eminentepedagogosuissohospede no Rio – o professor Claparède, vindohontempelo ‘Conte Rosso’, concede rápidaentrevista a O Jornal”, O Jornal (Rio de Janeiro), Hemeroteca Digital Brasileira, (1930), 01.

 

[61]  De acordo com Manukata, Gustavo Lessa assumiudiversos cargos naadministraçãopública, quase sempre aolado de Anísio Teixeira. Assumiutambém cargo naFundação Getúlio Vargas, comodiretorexecutivo e chefe da Campanha do LivroDidático e Manuais de Ensino (Caldeme), em 1952. KazumiManukata, “Dois manuais de história para professores: histórias de suaprodução”, Educação e Pesquisa [online]. v. 30, n. 3. (2004), 513-529,https://doi.org/10.1590/S1517-97022004000300010(29 de maio de 2024).

 

[62]  Marta Maria Chagas Carvalho, Molde nacional e fôrma cívica: higiene, moral e trabalho no projeto da Associação Brasileira de Educação (1924-1931), (Bragança Paulista: IFAN/CDAPH/Edusf, 1998).

 

[63]  Selma Barboza Perdomo e Ana Ana Chrystina Venancio Mignot e Daise Silva Santos, “Do lado de cá do Atlântico: um discípulopolonês de Édouard Claparède”, Educação, [S. l.], v. 47, n. 1, (2022), https://periodicos.ufsm.br/reveducacao/article/view/48284(29 de maio de 2024).

 

[64]  O Curso Jacobina, depoisColégio Jacobina, foifundado no bairro de botafogo, Rio de Janeiro, no ano de 1902, por Isabel Jacobina Lacombe e Francisca Jacobina Lacombe. O Colégiofoicriado com a finalidade de atenderaopúblicofeminino e atenderàsdemandas de umasociedade que se modernizava e exigiaumaeducaçãodiferenciada para a mulherburguesa (CARUSO, 2006).

 

[65]  Claparède (1931), op.cit. 115. No original, “On sent que le bonheur y règne ».

 

[66]  A Escola Normal de Artes e OfíciosWenceslau Braz começou a funcionarefetivamente no ano de 1919. Seu objetivo era formarmestres e professores para atuaremnasEscolas de AprendizesArtífices..

 

[67]  Sobreeste Instituto, consultar o site https://www.ioc.fiocruz.br/.

 

[68]  “O prof. Claparedevisitaa Escola Wenceslao Braz”, O Jornal (Rio de Janeiro), Hemeroteca Digital Brasileira, Ed. 3636. (20 de setembro de 1930), 02.

 

[69]  Claparède (1931), op.cit. 115.

 

[70]  RogérioCentofani, “Radecki e a Psicologia no Brasil”, Psicol. cienc. prof., 3, n. 1 (1982), https://doi.org/10.1590/S1414-98931982000100001(31 de maio de 2024).

 

[71]  Nascimento e Mandelbaum (2020) apresentamelementosrelevantes para a compreensão da organização do laboratório de psicologia da Liga no artigointitulado “A invenção da norma: a psicologiana Liga Brasileira de Higiene Mental”. Disponívelem:https://doi.org/10.1590/S0104-59702020000500007Acessoem 21 ago. 2022.

 

[72]  Claparède (1931), op. cit. 115-116. No original, “L’Etat de Minas a fondé à Bello Horizonte, il y a deux ans, une Ecole de perfectionnement, d’un type nouveau et très intéressant. C’est pour établir les bases de cette école que s’étaient déjà rendus au Brésil, pour quelques mois, le Dr Simon, de Paris, notre collègue Leon Walther, et que Mme Artus et Mme Antipoff y furent appelées pour une période plus longue. Le but de cette Ecole de perfectionnement est de former des inspectrices, des directrices d’écoles, des professeurs de psychologie scolaire pour les Ecoles normales, des fonctionnaires supérieurs pour l’administration des écoles de Minas. Elle comprend cent élèves, tous féminins, et voici comment on les recrute on choisit chaque année, parmi les institutrices ayant déjà au moins deux ans de pratique, les cinquante meilleures. Le cours dure deux ans Il comporte des enseignements spéciaux de pédagogie et de psychologie (jardin d’enfants, méthodologie, surtout psychologie appliquée à la pratique scolaire). Comme professeurs, outre trois jeunes Brésiliennes formées elles-mêmes au TeachersCollege de New-York, Mme Antipoff et Mme Artus (de Genève),et aussi M. Casasanta, directeur de l’Instruction primaire, qui préside aux destinées de cette Ecole de perfectionnement avec beaucoup d’intelligence et de clairvoyance. »..

 

[73]  Ibid, 117. No original, “la ville fut inondée de balles ».

 

[74]  Claparède (1931), 118. No original, “Je m’y retrouvai chez moi heureux de ces quelques semaines pa·ssées au milieu de tànt de choses intéressantes, de cette nature splendide, de tous ces amis, anciens ·et nouveaux, qui m’avaient rendu si agréable mon séjour au Brésil ».

 

[75]  “O sentimento de inferioridadenacriança”, Diário de Notícias (Rio de Janeiro), Hemeroteca Digital Brasileira, ed. 99, (18 de setembro de 1930), 04.

 

[76]  “O sentimento da inferioridadenacriança”, O Jornal (Rio de Janeiro), Hemeroteca Digital Brasileira, Ed. 3635, (19 de setembro de 1930), 03.

 

[77]  Volume V, páginas 888 a 914. https://archive-ouverte.unige.ch/unige:75013.

 

[78]  “Conferencias do professor Edouard Claparede”, Diário de Notícias (Rio de Janeiro), Hemeroteca Digital Brasileira, ed. 143, (30 de outubro de 1930), 12.