https://doi.org/10.19053/uptc.01227238.18283
Artículo de revisão
Cinquante Jours au Brésil: relatos da Viagem de Édouard
Claparède (1930)[1]
Cinquante Joursau Brésil: Informes sobre el viaje
de Édouard Claparède (1930)
Cinquante Jours au Brésil: Reports on Édouard Claparède’s
Journey (1930)
Laís Paula de Medeiros Campos Azevedo[2]* https://orcid.org/0000-0003-3274-5798
Olívia Morais de Medeiros Neta[3]* https://orcid.org/0000-0002-4217-2914
*Universidade Federal do Rio Grande
do Norte-UFRN, Brasil
Resumo
Objetivo:
Este artigo objetiva analisar
o relato da viagem realizada pelo psicólogo e médico suíço Édouard
Claparède, no ano de 1930ao Brasil. Sobre essa
viagem, Claparède publicou um relato intitulado Cinquante jours au Brésil na Revista L’Intermédiaire
dês Educateurs do Instituto Jean Jacques Rousseau, em
abril de 1931.
Originalidade:
Na historiografia da educação
brasileira, diversos trabalhos dedicam-se as viagens realizadas por brasileiros
para conhecer e estudar em outros países. Nesse estudo, nos propomos ao
percurso inverso: os europeus em viagens pedagógicas ao Brasil.
Método:
Nosso aporte
teórico-metodológico, é formado, principalmente, pelas contribuições de Michel
de Certeau (1982, 2017) e Jean François Sirinelli (2003). E Carlo Ginzburg
(2007) nos indica o caminho da pesquisa por meio do paradigma indiciário.
Estratégias/Coleta
do dados: Ao analisar o relato de viagem, intencionamos
responder aos seguintes questionamentos: quais os sentidos do relato da viagem
de Claparède ao Brasil? qual o percurso da viagem e
quais as impressões do intelectual? Ao ampliar nosso olhar sobre o documento,
nos voltamos ainda para os registros encontrados na
imprensa brasileira.
Conclusão: As pistas deixadas por Claparède em seu relato apontam, por exemplo, para o
percurso do intelectual, seu lugar de origem, não apenas a cidade ou país, mas
sua filiação institucional, bem como o suporte escolhido para o registro e publicização da viagem;
para a existência de uma troca de correspondências com intelectuais
brasileiros, além da sua relação de amizade e profissional com Hélène Antipoff, psicóloga e
educadora russa, radicada no Brasil.
Palavras-chave:
Édouard Claparède; educação nova; Instituto Jean Jacques Rousseau; viagens
pedagógicas.
Resumen
Objetivo: Este artículo pretende
analiza rel relato del viaje realizado por el
psicólogo y médico suizo Édouard Claparède a Brasil en 1930. Sobre este viaje,
Claparède publicó un informe titulado Cinquante jours au Brésil
en la revista L’Intermédiaire des Educateurs
del Instituto Jean Jacques Rousseau, en abril de 1931.
Originalidad/aporte: En la historiografía de la
educación brasileña, varios trabajos están dedicados a los viajes realizados
por brasileños para conocer y estudiaren otros países. En este estudio,
proponemos recorrer el camino inverso: europeos en viaje pedagógico a Brasil.
Método: Nuestro marco
teórico-metodológico está formado principalmente por las contribuciones de
Michel de Certeau (1982, 2017) y Jean François Sirinelli
(2003). Y Carlo Ginzburg (2007) nos muestra el camino de la investigación a
través del paradigma indicativo.
Estrategias de recolección de datos: Mediante el análisis
del cuaderno de viaje, pretendemos responder a las siguientes preguntas:
¿cuáles son los significados del cuaderno de viaje de Claparède a Brasil? Cuál fue el recorrido del viaje y cuáles fueron las impresiones del
intelectual? Para ampliar nuestra visión del documento, recurrimos
también a los registros encontrados en la prensa brasileña.
Conclusión: Las pistas dejadas por
Claparède en su relato apuntan, por ejemplo, a la trayectoria del intelectual,
su lugar de origen, no sólo la ciudad o el país, sino su filiación
institucional, así como el medio elegido para registrar y divulgar el viaje; a
la existencia de un intercambio de correspondencia con intelectuales
brasileños, además de su amistad y relación profesional con Hélène Antipoff, psicóloga y pedagoga rusa radicada en Brasil.
Palabras clave: Édouard
Claparède; nueva educación; Instituto Jean Jacques Rousseau;
viajes pedagógicos.
Abstract
Objective: This article
aims to analyze
the account of the journey
undertaken by the Swiss psychologist and physician Édouard
Claparède to Brazil in
1930. Claparède documented this
journey in a report titled Cinquante jours
au Brésil, published in the L’Intermédiaire des Educateurs journal of the Jean Jacques Rousseau Institute
in April 1931.
Originality: In the historiography of Brazilian education,
many studies focus on the
travels of Brazilians who went abroad to
learn and study. This study, however, proposes to explore the opposite trajectory: Europeans on a pedagogical journey to Brazil.
Method: Our theoretical and methodological framework is primarily
formed by the contributions of Michel de Certeau (1982, 2017), Jean François Sirinelli (2003), and Carlo Ginzburg (2007). The latter guides our research through the lens of
the evidentiary paradigm.
Strategies: Through an analysis of
Claparède›s
travel journal, we aim to
answer the following questions: What are the meanings
of his travel
journal in the context of Brazil?
What was the route of
his journey, and what were
his impressions as an intellectual? To broaden
our understanding of the document,
we also resort to records found
in the Brazilian press.
Conclusion: The
traces left by Claparède in
his account reveal, for instance,
the trajectory of the intellectual
in his place of origin, his institutional
affiliations, as well as the medium chosen
to record and disseminate his journey. Additionally, his correspondence with Brazilian intellectuals and his friendship and professional relationship with Hélène Antipoff, a Russian psychologist and educator based in Brazil.
Keywords: Édouard
Claparède; new education; Jean Jacques Rousseau Institute;
pedagogical journeys.
Recibido: 11/02/2024
Evaluado: 14/05/2024
Aprobado: 27/07/2024
Publicado: 01/09/2024
Introdução
Na
História da Educação, as viagens pedagógicas realizadas por educadores refletem
as suas intenções de observar, conhecer, analisar, comparar, propor, divulgar,
prescrever e organizar. Uma diversidade de documentos pode recontar a
experiência vivenciada nessas viagens, a saber: relatórios oficiais, registros pessoais, fotos, cartas, agendas, cartões postais
e relatos publicados em livros ou em periódicos. Sobretudo os relatos de viagem
permitem, na pesquisa histórica, viajar e transitar pelos mesmos espaços que o
viajante percorreu e entender as suas intencionalidades.
Na
historiografia da educação brasileira, diversos trabalhos dedicam-se as viagens
realizadas por brasileiros para conhecer e estudar em outros países
. Nesse sentido, o livro de Ana Chrystina Mignot e José Gondra, intitulado
“Viagens Pedagógicas”[4]demonstra o interesse e a relevância
dos estudos sobre a temática que vêm se ampliando nos últimos anos.
Nesse
estudo, nos propomos ao percurso inverso. Nosso objetivo é analisar a viagem
que o psicólogo e médico suíço Édouard Claparède realizou, no ano de 1930, ao Brasil. Claparède (1873–1940), formou-se pela Faculdade de Medicina
de Genebra (1897), dedicou-se ao campo da psicologia experimental e da
infância, publicando diversos livros, e foi o fundador do Instituto Jean
Jacques Rousseau (IJJR), no ano de 1912, em Genebra
na Suíça. Este instituto tornou-se um grande centro de formação e pesquisa que
atraiu educadores de diversos países, inclusive brasileiros, nas primeiras
décadas do século XX. O Instituto constituiu-se como um espaço da Educação Nova
e da defesa de mudanças na educação, com o intuito de conferir um caráter
científico a partir das contribuições da psicologia.
Sobre
a sua viagem, o intelectual publicou um relato intitulado CinquantejoursauBrésil
na Revista L’Intermédiaire desEducateurs do IJJR na
edição de abril de 1931. Neste estudo, intencionamos responder aos seguintes
questionamentos: quais os sentidos do relato da viagem de Claparède
ao Brasil? qual o percurso da viagem e quais as impressões do intelectual?
Compreendemos conforme apontado por Mignot que as
viagens “não começam no dia da partida e não se encerram na hora da chegada.
Daí a importância de interpretar os viajantes, os contextos, as motivações, as
finalidades e as repercussões de cada travessia”[5].
Assim,
a partir do seu relato, buscamos identificar detalhes sobre a sua travessia, os
lugares que visitou e os sujeitos que encontrou. Ao ampliar nosso olhar sobre o
documento e, consequentemente, sobre a viagem, nos voltamos ainda para a busca
de registros sobre a viagem e sobre o intelectual na
imprensa brasileira. Nesse intuito, utilizamos as fontes disponíveis na
Hemeroteca Digital Brasileira.
Nosso
aporte teórico-metodológicoé formado, principalmente,
pelas contribuições de Michel de Certeau[6]e Jean François Sirinelli[7]. Carlo Ginzburg[8], por sua vez, nos indica o caminho
da pesquisa por meio do paradigma indiciário. Analisamos o relato da viagem em
busca das pistas deixadas por Claparède que nos
possibilitem responder aos questionamentos elencados neste estudo.
Em
vista disso, organizamos este artigo em quatro partes. Após essa introdução,
apresentaremos o viajante, seus traços biográficos e percurso profissional. Em
seguida, nos deteremos à viagem e, especificamente, sobre o relato da viagem.
Ao nos debruçarmos sobre este documento, após já ter respondido à questão do
quem escreve? buscamos identificar onde escreve? Por que escreve? O que
escreve? Ao final, traremos algumas considerações sobre a pesquisa.
O Viajante
Édouard-Jean Alfred Claparède que nasceu em
Genebra, em 24 de março de 1873, e faleceu em 29 de setembro de 1940. Claparède tornou-se conhecido como médico, neurologista,
psicólogo e professor. O intelectual formou-se pela Faculdade de Medicina de Genebra (1897)
e se dedicou, sobretudo, ao campo da psicologia, seguindo os passos de seu
primo ThéodoreFlournoy (1854-1920). Flournoy foi o criador da cadeira extraordinária de
Psicologia Experimental na Faculdade de Ciências de Genebra, e Claparède tornou-se assistente em seu laboratório de
psicologia, iniciando assim o seu caminho na área[9].
Auxilia-nos
na compreensão da trajetória de Claparède, o conceito
de intelectual desenvolvido por Jean François Sirinelli.
Com base no pensamento deste autor, o conceito de intelectual pode assumir dois
sentidos diferentes de acordo com o contexto, uma acepção
“ampla e sociocultural, englobando os criadores e os ‘mediadores’ culturais, a
outra mais estreita, baseada na noção de engajamento”[10]. Ainda segundo o autor, uma
acepção não exclui a outra, ao contrário, se
relacionam, uma vez que a “notoriedade eventual ou sua ‘especialização’,
reconhecida pela sociedade em que ele vive - especialização esta que legitima e
mesmo privilegia sua intervenção no debate da cidade-, que o intelectual põe a
serviço da causa que defende”[11].Ao
longo desse estudo, a figura de Claparède emerge como
um intelectual criador e mediador cultural, profundamente engajado no campo
educacional e da psicologia.
Seguindo
os rastros apontados por Bovet[12], nos deparamos com uma
publicação de Claparède intitulada Quelques MotssurleCollège
de Genève, na qual o autor se posiciona como
aluno e se propõe a algumas observações sobre o ensino escolar diante da
necessidade de que os administradores ouçam os alunos e que os professores
deveriam conhecer as críticas realizadas pelos alunos e ressalta que “tendemos
a esquecer que as aulas são feitas para os alunos e não os alunos para as
aulas”[13].
Em seu
relato autobiográfico, publicado em inglês no primeiro livro da série
intitulada A History ofPsychology
in Autobiography[14],
Claparède apresenta elementos sobre sua família, sua
infância, seu percurso acadêmico e profissional e suas percepções
acerca da psicologia. A partir de Certeau [15],
podemos refletir que o discurso do intelectual presente no livro é um texto
direcionado aos seus “pares”. Este aspecto é
evidenciado, por exemplo, quando Claparède considera
que haveria outros eventos que poderiam ser mencionados em seu texto, “mas o
espaço ainda à minha disposição deve ser empregado
para responder algumas perguntas, a pedido dos editores deste volume. E, em
primeiro lugar, o que eu acho da minha contribuição para a psicologia
?[16]”.
Nas
palavras de Claparède, identificamos que sua família
era de protestantes, em sua maioria, clérigos ou magistrados, inclusive, seu
pai deixou a função religiosa para estudar a história do protestantismo logo
após seu nascimento. Ele era o mais novo de cinco irmãos, filho de pais simples
e modestos. O relato traz elementos sobre a sua infância feliz em um ambiente
no qual ele tinha constante contato com a natureza. Apesar de ressaltar que não
havia homens de ciência entre seus ancestrais, Claparède
menciona três exceções. Entre estes, um tio, irmão de seu pai, do qual havia
herdado seu nome e que, segundo o autor, teria sido um dos primeiros a divulgar
as ideias de Charles Darwin no continente europeu[17].
Claparède situa o ano de 1891 como um marco importante em sua
vida, no qual seu primo Flournoy teve papel
fundamental. Ao ouvir uma palestra sua intitulada The
Soul andthe Future ofPsychology, Claparède é apresentado, pela primeira vez, ao campo da
psicologia. No mesmo ano em que Claparède inicia seus
estudos na Faculdade de Ciências de Genebra, seu primo começa a lecionar um
curso de Psicologia Experimental na mesma Faculdade e ali estabelece o seu
laboratório. O intelectual faz questão de ressaltar que este fato foi um
importante marco na história da psicologia, uma vez que representava, pela
primeira vez, a desvinculação oficial da psicologia em relação a filosofia e a
sua constituição enquanto ciência.
Nas
aulas de Flournoy, e em seu laboratório, Claparède começa a ter contato com novas experiências e
teorias. Assim, desenvolve o interesse por fenômenos psicofisiológicos, conhece
o psicólogo William James[18]e suas teorias. Viaja a Paris e se
encontra pela primeira vez com Alfred Binet[19], de quem se tornará amigo nos anos
seguintes. O texto de Claparède menciona outros
lugares onde esteve, outros estudiosos, médicos, neurologistas e psicólogos que
conheceu, com os quais construiu relações e iniciou estudos.
Assim,
descobrimos que ele estudou um semestre na Alemanha, quase fez um curso no
laboratório de Wilhelm Wundt em Leipzig, tornou-se
membro da Society ofZofingue,
casou-se com HèleneSpir, concluiu a faculdade,
passou um ano em Paris, durante o qual se tornou um amigo íntimo de Binet,
antes de retornar para Genebra em 1899, quando passou a trabalhar no
Laboratório de Psicologia com seu primo e ministrar um curso sobre sensações na
Universidade.
Claparède[20]explica o início do seu interesse
pelo campo da psicologia aplicada à educação a partir da criação de classes
para crianças atrasadas e subnormais[21], em Genebra, para as quais os
professores não se sentiam preparados e teriam o procurado em busca de conselhos.Diante da sua falta de
conhecimento sobre a temática, Claparède busca
compreender aquela realidade, inclusive, viajando até Bruxelas onde Jean Demoor e OvideDecroly[22] se dedicavam a mesma temática. A
partir dos seus estudos, Claparède elabora um
relatório para o Departamento de Educação de Genebra e, em 1901, realiza uma
palestra na qual reivindica L’écolesur
mesure, a escola sob medida. Sobre este aspecto, Bovet [23]ressalta que
Não é surpreendente ver que, como em
Bruxelas (Decroly), como mais tarde em Paris (Binet)
e em Roma (Montessori), foi também em Genebra que as
crianças anormais[24] desencadearam em poucos anos as
correntes de pensamento para a reforma da escola, tão característica dos
primórdios do século XX[25].
Essa
constatação de Bovet aproxima-se do que Jean Houssaye[26]
discute em relação ao movimento de importação-exportação das pedagogias. Para o
autor[27],
existem ondas de fundo envolvidas, “os países entram no movimento de difusão
das ondas pedagógicas, segundo temporalidades que diferem entre si, porém com
percursos bastante idênticos”.
À medida que Claparède
constrói o seu relato
autobiográfico, o intelectual faz questão de ressaltar a influência de outros intelectuais e das
suas ideias. Notadamente,
entre as influências sobre o pensamento do autor, é possível destacar a de
William James no que se refere a essa perspectiva,
tendo em vista que este é considerado o fundador da Psicologia Funcional.
Em seu
livro “A Educação funcional” (1931), o autor se propõe a apresentar as origens
da psicologia funcional na relação com a educação. Além de William James, Claparède considera como parte dessa genealogia, as
contribuições de John Dewey, Karl Groos
e Sigmund Freud. Entre as diversas obras produzidas por Claparède,
Daniel Hameline[28]destaca os seguintes livros
e artigos publicados no Brasil: A escola e a psicologia experimental (1928), O
sentimento de inferioridade na criança (1931), A educação funcional (1933),
Psicologia da Criança e Pedagogia Experimental (1934), A escola sob medida
(1959) e Invenção dirigida: o mecanismo psicológico da invenção (1973)[29].
De
acordo com Droux et al[30], Flournoy e Claparède fundaram, em
1901, a revista Archives de Psychologie com o intuito de “discutir os conhecimentos
psicológicos e pedagógicos disponíveis no mundo”. O intelectual dirigiu esta
revista até o ano de seu falecimento. Ainda em 1901, nasce seu filho,
Jean-Louis. Em 1904, Claparède assume a direção do
Laboratório no lugar de Flournoy, dedica-se a
experimentos e aproxima-se da psicologia aplicada defendida por Alfred Binet e Willian Stern[31]. Em 1908, Claparède se torna professor de Psicologia Experimental na
Universidade de Genebra.
Destarte,
é para a psicologia educacional que Claparède irá se
voltar nos anos seguintes. De acordo com o autor,
A educação, exatamente como a
ciência médica, é uma técnica que pode ser fundada apenas no conhecimento, e
isso só pode ser dado pela observação e experimento. Mas o psicólogo não está
bem colocado para construir, por si mesmo, esta ciência da criança que é tão
necessária à pedagogia, pois não tem à sua disposição as crianças de que
necessita. Portanto, os professores das escolas devem estar preparados para
reunir os materiais necessário para a psicologia genética.[32]
No
intuito de propiciar essa formação aos professores, Claparède
começa a alimentar a ambição de criar um instituto especial para a psicologia
aplicada à educação, sem ligação com o Estado e com a Universidade.Constatamosque
esse interesse pela educação, a partir de uma perspectiva
científica, era partilhado por muitos outros sujeitos em Genebra. Segundo Claparède, naquele momento, “Ferrière
estavadefendendo o movimento
‘Escola Nova’; Aug. Lemaitre estudavaadolescentes;
Alice Descoeudresestavaverificandoos testes de Binet;
e as senhoritas Audemars e Lafendel
tentavamintroduzirreformasnosjardins de infância, ondeensinavam”[33].
O
exposto por Rita Hofstetter (2010), [34]corrobora
com essa constatação de Claparède, uma vez que a
autora situa a virada do século XIX para o século XX como um momento em que o pensamento
sobre a educação e a infância são transformados. Segundo a autora.
É neste
contexto de efervescência pedagógica, intelectual e científica que se propaga a
ideia de que um melhor conhecimento da infância é essencial para melhorar as práticas educativas e que é possível e
mesmo necessário construir uma nova ciência sobre este assunto[35].
O
Instituto Jean Jacques Rousseau começou a funcionar em 21 de outubro de 1912,
na cidade de Genebra, Suíça, com o nome em homenagem ao bicentenário de
nascimento do filósofo e cidadão daquela cidade. A trajetória de Claparède à frente do Instituto e o destaque internacional
que adquire são importantes para compreendermos os caminhos que conduziram o
intelectual para a sua viagem ao Brasil, sobre a qual nos debruçaremos no
próximo tópico.
O Relato da Viagem
Criado
em outubro de 1912, L’Intermédiaire desEducateurs, tinha como objetivo constituir-se como
uma extensão do espaço do Instituto. Sua finalidade, apresentada pelo diretor
Pierre Bovet, seria
contribuir para a construção de uma
pedagogia positiva, por um lado iniciando aqueles que gostariam de colaborar conosco nas questões que surgem e nos métodos para
resolvê-las, por outro lado servindo de elo entre esses pesquisadores, e
agrupando e coordenando suas investigações ou resultados[36].
Compreendemos
que o periódico constituir-se-ia como um espaço de sociabilidade, no qual laços
deveriam ser construídos. Nesse sentido, nos pautamos no pensamento de Sirinelli que ressalta a importância das revistas como um
espaço que permite a compreensão do meio intelectual. De acordo com este autor,
As revistas conferem uma estrutura
ao campo intelectual por meio de forças antagônicas de adesão - pelas amizades
que as subtendem, as fidelidades que arrebanham e a influência que exercem - e
de exclusão - pelas posições tomadas, os debates suscitados, e as cisões
advindas. Ao mesmo tempo que um observatório de primeiro plano da sociabilidade
de microcosmos intelectuais, elas são aliás um lugar precioso para a análise do
movimento das idéias. Em suma, uma revista é antes de
tudo um lugar de fermentação intelectual e de relação afetiva, ao mesmo tempo
viveiro e espaço de sociabilidade, e pode ser, entre outras abordagens,
estudada nesta dupla dimensão [37].
Bovet[38] aponta que o periódico passou por
três fases, sendo a primeira de outubro de 1912 a julho de 1914; a segunda,
imposta pela Primeira Guerra Mundial, até dezembro de 1920; e, a terceira,
iniciou em janeiro de 1921 e terminaria em dezembro de 1932.A terceira fase
corresponde a fusão do periódico com L´Educateur,
revista da Société pédagogique
de la SuisseRomande, criada no ano de 1865[39]. Com a aproximação do Instituto com
a Sociedade, Bovet foi nomeado como diretor do
periódico. A cada dois meses, L´Educateur
teria uma edição especial dedicada à psicologia da criança e à pedagogia
experimental.
Intitulado
CinquantejoursauBrésil, o relato da viagem de Claparède foi publicado na Revista L´Éducateur,
correspondente ao número 140 do periódico L’Intermédiaire
desEducateurs de 11 de abril de 1931 (FIGURA 01).
Fonte: L´Éducateur[40]
Figura 1. Página inicial L´Intermédiaire
desEducateurs – (1931)
O
relato corresponde às seis primeiras páginas do impresso. A escolha por escrevernesse periódicosobre a
sua viagem ao Brasil é justificada pelo fato de a intencionalidade da revista
ter sido, desde o princípio, a construção de um espaço de troca entre os
interessados pela Psicologia e pela Educação. Assim, podemos perceber que Claparède conta aos seus pares como foram esses cinquenta
dias no Brasil. Na análise, assumimos a proposição de Ginzburg[41]de que o pesquisador “escavando os
meandros dos textos, contra as intenções de que os produziu, podemos fazer
emergir vozes incontroladas”.
Nos
números correspondentes à 1931[42], encontramos dois outros
relatos de viagens escritos porBovet: “Cinco dias em
Varsóvia”[43]e
“Com os educadores da Catalunha – na escola de verão de Barcelona”[44].
Nesse mesmo número, encontramos o texto intitulado “Congresso Internacional da
Infância – em Paris[45]”,
escrito por Robert Dottrens, que relata o que
aconteceu no referido Congresso para o qual uma delegação do IJJR havia viajado. A existência desses textos se configura
como indícios de que que os relatos de viagens e das ações dos professores do IJJR em outros países faziam parte das tendências de
publicação do impresso.
Ao nos
voltarmos para o texto de Claparède, identificamos
que não se trata de um relatório oficial, mas de um texto narrativo em que se
sobressai o caráter subjetivo. Ao registrar a sua
experiência pessoal, as memórias sobre as suas vivências passam a compor a
história do periódico e do IJJR. Nos
propomos a acompanhá-lo em sua viagem, identificar os espaços que visitou e os
sujeitos que encontrou. Certeau[46], ao considerar que todo
relato é um relato de viagem e uma prática de espaço, aponta que “essas
aventuras narradas, que ao mesmo tempo produzem geografias de ações e derivam
para os lugares comuns de uma ordem [...]. De fato, organizam as caminhadas. Fazem a viagem antes ou
enquanto os pés a executam”.
Claparède aponta que o seu objetivo era passar apenas quatro
semanas no Brasile que o destino fez com que isso não
acontecesse. Sobre a viagem,apresenta
Meu objetivo, ao ir para lá, era
tanto conhecer pessoalmente colegas amigáveis que eu já conhecia
por correspondência e que me convidaram para dar algumas palestras, e rever
ex-alunos, e principalmente visitar a Sra. Antipoff
que havia organizado em Belo Horizonte um ensino de psicologia experimental e
escolar[47].
Hélene Antipoff (1892 – 1974) foi uma
psicóloga e educadora russa. Estudou em São Petersburgo e na França e, em
Genebra, fez parte da primeira turma do IJJR em 1912,
e, como aluna, ficou responsável pela educação das crianças na Maison desPetits, escola
de aplicação do IJJR fundada em 1913. Entre 1925 e
1926, ela retorna ao IJJR como assistente no
laboratório de Psicologia experimental e se torna parte do corpo docente.
Antipoff fez parte de uma embaixada pedagógica contratada
pelo Governo de Minas Gerais em 1929, para atuar na Escola de Aperfeiçoamento
de Belo Horizonte. Sobre a sua chegada ao Brasil, Campos[48] aponta que “Helena Antipoff, contratada para lecionar a disciplina psicologia
educacional na Escola de Aperfeiçoamento, assumiu também as funções de montar e
dirigir o Laboratório de Psicologia Experimental”[49]. De acordo com a autora, a
intelectual permaneceu no país e obteve a cidadania brasileira em 1951.
De
acordo com Martine Ruchat[50], Antipoff
inicia uma troca de correspondências com Claparède no
ano de 1915 até 1940. A partir do estudo que a pesquisadora faz sobre essas
correspondências, Ruchat[51]afirma haver uma relação intelectual
e afetiva entre os dois educadores.
Em “O
Jornal” (RJ), de 10 de setembro de 1930, encontramos a notícia intitulada “A
próxima visita do professor Clapared ao Brasil”. No
texto, Hélene Antipoff é
apresentada como a “discipula do eminente psychologosuisso” e um “dos seus mais queridos
colaboradores” a quem o jornal procurou para a realização da reportagem e que
trazia traços biográficos do educador (FIGURA 02).
Fonte: O Jornal (RJ). 10 de
setembro de 1930[52].
Figura 02. Recorte de “O Jornal” (1930)
Em 02
de setembro de 1930, o intelectual deixou Genebra a bordo do navio italiano Conte
Rosso com destino ao Brasil, com a pretensão de
também nele retornar no dia 25 de outubro, para chegar a tempo do início das
aulas na Universidade. Sobre a travessia, Claparède
aponta que levou apenas onze dias para chegar ao Rio de Janeiro, que encontrou,
em um professor da Faculdade de Medicina de Paris, o companheiro encantador
para a viagem e que não foi tão quente quanto pensava, ficando inclusive
resfriado. Esses elementos denotam a linguagem leve, pessoal e subjetiva que o
intelectual deseja conferir a sua escrita. Sobre sua chegada, ele conta que
Apesar da hora tardia [meia noite], muitos amigos estavam esperando por mim no
cais. Sr. Lins, professor da Escola Normal de Juiz de Fora, e Sra. Lins, que
passou vários anos no Institut J.-J. Rousseau;
Senhorita Laure Lacombe, também ex-aluna; Dr. Lopes,
presidente da Liga Brasileira de Higiene Mental; Dr. F. Magalhães, e Dr. Lessa
e Professor Venanzio Filho, Presidentes da Associação
Brasileira de Educação; Dr. Radecki, que havia sido
meu assistente no Laboratório de Psicologia em 1910, M. Redard,
encarregado de negócios da Legação Suíça, etc. Isso significa que assim que
desembarquei neste novo continente, tive a sensação de estar em casa”[53].
Este
relato revela o entrelaçamento e as conexões transnacionais de intelectuais e
instituições, sujeitos que viajaram e constituíram redes de educadores[54]. O primeiro nome citado é do
professor Francisco Lins, que fez parte da primeira turma do IJJR no ano de 1912. De acordo com Daise
Santos[55], Lins foi aluno entre 1912 e 1915.
Laura Jacobina Lacombe, por sua vez, esteve no Instituto no ano de 1925[56], durante o semestre de inverno, com
o intuito de aprimorar a sua formação e se preparar para assumir o colégio
criado pela sua mãe, Isabel Jacobina Lacombe.
Claparède menciona representantes de duas instituições: a Liga
Brasileira de Higiene Mental, criada em 1923 e, a Associação Brasileira de
Educação (ABE), criada em 1924. Sobre esta última, Claparède[57] destaca que
[...] é muito ativa, muito animada,
reúne mil membros; seu objetivo é estudar tudo o que pode ajudar a educação a
progredir e instar as autoridades a introduzir as reformas desejadas. Tem
quatro presidentes, cada um responsável por um trimestre. Destes quatro
presidentes, três são médicos. Quando cheguei, estava na cadeira o Dr.
Magalhães[58], um dos cirurgiões mais populares
do Rio e reitor da Faculdade de Medicina. Suas inúmeras ocupações (ele também é
presidente do Jockey Club) não o impedem de dedicar atenção especial às
questões da educação[59].
Compreendemos
quefoi a convite da ABEque Claparède viajou até ao Brasil para realizar uma série de
conferências, embora a visita a sua ex-aluna e assistente tenha papel
fundamental nessa viagem. Na edição de 14 de setembro de 1930, “O Jornal” (RJ),
traz em sua primeira página, a reportagem “Um eminente pedagogo suisso hospede no Rio – o professor Claparède,
vindo hontem pelo ‘Conte Rosso’,
concede rápida entrevista a O Jornal”. A reportagem traz uma imagem do
intelectual e, após apresentar breves traços biográficos sobre Claparède, transcreve a sua fala
Ha muito alimento o desejo de visitar
o Brasil de que tantas e tão boas noticias me vão ter
as mãos, enviadas que são por antigos discípulos que aqui residem. Tive sempre
esperança de realizar essa viagem, não o fazendo, há mais tempo, em virtude dos
afazeres incontáveis que me impossibilitaram deixar a Suissa.
Quando, porém, se me apresentou oportunidade não vacilei em aceitar o convite
que me foi feito por carta dirigida pelo Sr. Gustavo Lessa. E parti
incontinente para cá, onde afinal chego cheio de satisfação[60].
Gustavo
de Sá Lessa[61] (1888-1962) foi um médico e
sanitarista mineiro. Fez parte da presidência da ABE a partir do ano de 1929[62]. A partir do seu relato de Claparède, identificamos que existiam trocas de
correspondências com intelectuais e instituições brasileiras. De acordo com Ruchat (2008), Claparède recebeu
outros três convites para atuar no Brasil, em 1921, em 1932, por convite de
Lourenço Filho e, em 1935, novamente, pelo médico Gustavo Lessa.
Outro
de seus antigos alunos presentes foi WaclawRadecki,
psicólogo polônes, que estudou Psicologia com Flournoy e Claparède na Faculdade
de Genebra. Conforme apontado por Claparède, ele se
tornou assistente no Laboratório de Psicologia Experimental no ano de 1910. De
acordo com Perdomo, Mignot
e Santos[63], Radecki
fundou, no ano de 1924, um Laboratório de Psicologia, na Colônia de Psicopatas
em Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro. Este laboratório deu origem a um
Instituto de Psicologia, em 1932, e que, mais tarde viria a se tornar o
Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Claparède menciona que “foi levado” a muitas escolas que, na
sua percepção, adotavam métodos ativos, e que eram
situados em belos prédios. O Colégio Jacobina[64], dirigido por Laura Lacombe e sua
mãe, Isabel Jacobina Lacombe, é apontado pelo intelectual como um exemplo de
escola inspirada nos novos métodos. Sobre esta escola, Claparède
comenta que “sentimos que a felicidade reina ali[65]”.
Claparède destina algumas linhas a descrever as
características arquitetônicas do prédio que iria
situar a nova Escola Normal e a elogiar as suas instalações. Visitou a Escola
Normal de Artes e Ofícios Wenceslau Braz[66] e fez questão de nomear o seu
diretor, Barbosa de Oliveira, e a professora que ministrava as aulas de
psicologia, D. Alba Nascimento. Seu itinerário no Rio incluiu ainda uma visita
ao Instituto Oswaldo Cruz[67] e ao Jardim Botânico.
Essas
visitas são divulgadas nos jornais cariocas conforme identificamosem
“O Jornal’ (RJ) de 20 de setembro: “O prof. Claparede
visita a Escola Wenceslao Braz”. De acordo com esta
notícia, a visita teria durado três horas, durantes as quais o “illustrescientista percorreu as aulas de sciencias e línguas e de officnas,
mostrando-se satisfeito com a organização de tão importante instituto de ensino
technico, moral e profissional”[68].
Em
relação aos espaços associados à psicologia, Claparède
relata que
Quanto à psicologia experimental,
tem um simpático pequeno laboratório na sede da Liga Brasileira de Higiene
Mental, presidido com distinção pelo Dr. Ernani Lopes. Dr. Radecki
também montou um bom laboratório de psicologia em uma colônia de psicopatas, no
interior, a alguma distância do Rio[69].
Pelo
seu texto, não conseguimos identificar se o intelectual chegou a visitar o
laboratório organizado por Radecki ou apenas quis
sinalizar a sua existência. No entanto, de acordo com Centofanti[70], essa visita teria acontecido. Claparède não tece mais comentários sobre o laboratório[71] existente na da Liga. Sua escrita é
polida e, se compararmos a outros espaços sobre os quais o intelectual teceu
elogios, podemos inferir que este não o impressionou.
Após
uma semana no Rio, Claparède se encaminhou para a sua
próxima parada: Belo Horizonte, Minas Gerais. Ele descreve brevemente o trajeto
e compara a cidade à uma cidade da Suíça, também cercada por montanhas.
Notadamente, percebemos que sua visita a Belo Horizonte ocupava um lugar central
em sua viagem.
O Estado de Minas fundou em Belo
Horizonte, há dois anos, uma Escola de Aperfeiçoamento de um tipo novo e muito
interessante. Foi para estabelecer as bases dessa escola que o Dr. Simon, de
Paris, e nosso colega Leon Walther já haviam ido ao
Brasil por alguns meses, e que a Sra. Artus e a Sra. Antipoff foram chamadas para lá por um período maior. O
objetivo desta Escola Avançada é formar inspetores, diretores de escolas,
professores de psicologia educação para as Escolas Normais, altos funcionários
da administração das escolas de Minas. [...] O curso tem duração de dois anos e
inclui aulas especiais de pedagogia e psicologia (jardim de infância,
metodologia, especialmente psicologia aplicada à prática escolar). Como
professoras, além de três jovens brasileiras formadas no TeachersCollege
de Nova York, Sra Antipoff
e Sra Artus (de Genebra), e
também o Sr. Casasanta, Diretor de Educação Primária,
que preside os destinos desta Escola de aperfeiçoamento com muita inteligência
e clarividência [72].
Claparède tece elogios ao trabalho que Antipoff
estava desenvolvendo naquela escola. O intelectual menciona ainda o nome de
outro brasileiro e o apresenta como defensor dos novos métodos, o então
professor da Escola Normal de Santos Lourenço Filho, que teria visitado ele em
Belo Horizonte. Neste ponto, o intelectual relata o acontecimento que fez com
que seus planos de retorno fossem interrompidos: a Revolução de 1930. Claparède narra um fato importante na História Política do
Brasil àpartir da sua vivência naquele momento e
das informações que tinha acesso, fala dos cinco dias em que as pessoas não
podiam mais circular, pois “a cidade foi inundada em balas”[73].
Apenas
após pouco mais de três semanas Claparède pode
retornar ao Rio de Janeiro. Lá, encontrou a professora Louise Artus Perrelet, contratada pela
Escola de Aperfeiçoamento que também ficou impossibilitada de voltar a Belo Horizonte
durante aquele período. De acordo com o intelectual, ela desenvolvia naquele
momento uma série de jogos educativos em português.
Claparède conclui mencionando que Adolphe Ferrière
teria chegado ao Brasil quando a Revolução eclodiu, o que teria o impedido de
desembarcar; fala da sua angústia em não estar no início do semestre na Suíça
para as aulas da Universidade, mas que conseguiu, finalmente, embarcar no dia
02 de novembro. O intelectual afirma, por fim, que se sentia “feliz com essas
poucas semanas passadas em meio a tantas coisas interessantes, com essa
natureza esplêndida, com todos esses amigos, antigos e novos, que tornaram tão
agradável minha estada no Brasil[74]”.
Embora
o intelectual não se dedique a falar sobre as conferências que realizou,
conseguimos identificar na imprensa alguns indícios. O jornal “Diário de
Notícias” (RJ), de 18 de setembro de 1930, publicou uma reportagem sobre a
primeira conferência de Claparède na ABE realizada no
dia anterior: “O sentimento de inferioridade na criança”. De acordo com a
notícia, essa seria a primeira de uma série de conferências[75].
Sobre
esta primeira conferência, “O Jornal” (RJ) de 19 de setembro do mesmo ano,
destaca que “a assistência, além de numerosa, excedendo à capacidade da sala da
Associação, era seleccionada, sendo de notar a
presença de psychiatras e psychologos
de renome, de varias professoras das escolas municipaes e de pedagogos reputados”[76]. A mesma conferência foi ministrada
no Teatro Municipal de Belo Horizonte em 23 de setembro, e o texto foi
publicado na Revista do Ensino de Minas Gerais na edição correspondente aos
meses de janeiro a março de 1931. Um exemplar dessa revista integra o compilado
de texto escritos por Claparède e que está disponível
nos Arquivos do Instituto Jean Jacques Rousseau[77].
Encontramos
outras notícias sobre duas conferências realizadas na ABE nos dias 31 de
outubro e 01 de novembro: “A psicologia da escola ativa” e “Institutos de
Educação”, respectivamente[78]. As notícias mencionam ainda que o
intelectual receberia o título de sócio correspondente da Liga Brasileira de
Higiene Mental antes de sua partida.
Conclusões
Notadamente,
o relato de Claparède constitui-se com um fio em
nossa pesquisa. As notícias e reportagens presentes na imprensa, por sua vez,
configuram-se como os rastros da viagem do intelectual ao Brasil em 1930. Nos
limites deste texto, buscamos compreender os sentidos dessa viagem.
Seu
percurso no Brasil compreendeu as cidades do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte
que o intelectual descreve aos leitores do periódico do Instituto Jean Jacques
Rousseau. Compreendemos que Claparède viaja ao Brasil
a partir do convite realizado pela ABE. Destarte, a visita a sua antiga aluna Hélène Antipoff possuiu um papel
importante nesse itinerário.
Desde
o título, o intelectual chama a atenção para o período que esteve no país e
ganha destaque em seu texto, especialmente, a história da Revolução de 1930 a
partir das suas vivências em Belo Horizonte. A narrativa assemelha-se a de uma
aventura inusitada que o coloca envolto nos acontecimentos.
A
partir de seu relato, é possível identificar redes constituídas entre a ABE e o
IJJR, entre intelectuais brasileiros e professores do
Instituto. Na construção dessa rede, evidencia-se o papel de ex-alunos, entre
estes, os brasileiros que estiveram no Instituto nas décadas anteriores e que
parecem constituir-se como elos. Do seu texto emergem nomes importantes da
história da educação brasileira, sobretudo, relacionados ao movimento da Escola
Nova no período, como o de Lourenço Filho. Do mesmo modo, os espaços que
visitou possuem relações com a ideia de modernidade educacional que se buscava
no período. É importante ressaltar também que se evidencia a participação de
professores do Instituto na construção das bases da Escola de Aperfeiçoamento
de Minas Gerais.
Notícias
sobre a presença do intelectual no Brasil ocuparam as páginas dos jornais e
revistas demonstrando o destaque e o reconhecimento atribuído a Claparède no campo educacional. As conferências realizadas
versavam sobre o estudo da criança, a psicologia da escola ativa e os
Institutos de Educação. Destarte, destacamos que a maior parte das fontes
utilizadas foram produzidas no Rio de Janeiro. Ao finalizarmos nosso texto,
reconhecemos a necessidade de prosseguir com a pesquisa no intuito de buscar
novas fontes que nos forneçam elementos para compreender o conteúdo dessas
palestras e a repercussão da visita de Claparède em
Minas Gerais.
Contribuição dos autores:
Laís
Paula de Medeiros Campos Azevedo: investigação, concetualização, metodologia, visualização, escrita (rascunho e original); Olívia Morais de Medeiros Neta: investigação,
concetualização, escrita (rascunho e original).
Financiamento
Sin
financiación
Conflito de interesses
Los
autores declaram não ter conflitos
de interesse.
Implicações éticas
Los
autores declara que este artigo não
tem implicações éticas na sua
redação ou publicação.
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Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, (2003): 231-269.
Cómo citar este artículo: De Medeiros Campos Azevedo, Laís
Paula; De Medeiros Neta Olívia Morais “Cinquante
Jours auBrésil: relatos da Viagem de Édouard Claparède
(1930)” Revista Historia de la Educación
Latinoamericana vol.26 no.44 (2024).
[1] O
artigo corresponde a um recorte da pesquisa de doutorado, a partir da qual foi
publicada a tese intitulada “Travessias Brasil - Europa: o Instituto Jean
Jacques Rousseau e as redes de intelectuais (1912 - 1934)” (2023).
[2] Doutora
em Educação (Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN). Grupo de
Pesquisa História
da Educação, Literatura e Gênero (UFRN) e Grupo de EstudosemTrabalho, Educação
e Sociedade G-TRES (IFRN). E-mail: laispaulamedeiros@gmail.com.
[3] Doutora
em Educação Educação (Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN). Professora do Centro de Educação da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Grupo de Pesquisa História da Educação, Literatura e Gênero
(UFRN) e Grupo de EstudosemTrabalho, Educação e Sociedade G-TRES (IFRN).
E-mail: olivianeta@gmail.com.
Correspondência/Correspondence:
Laís Paula
de Medeiros Campos Azevedo, Rua dos Tororós, 2398, Lagoa Nova, Natal, Rio
Grande do Norte, Brasil
[4] Mignot, Ana Chrystina Venancio e José
Gonçalves Gondra, ViagensPedagógicas, (São Paulo: Cortez, 2007).
[5] Ana Chrystina VenancioMignot,“Viagens e narrativas
(auto)biográficas”, Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)biográfica, 2,
n. 5, (2017), 263-267.
[6] Michel de Certeau, A Escrita da
História, (trad. Maria de Lourdes Menezes. Rio de Janeiro:
Forense-Universitária, 1982).Michel de Certeau, A invenção do cotidiano: 1.
Artes de fazer, 22ed, (trad. Ephraim Ferreira Alves. Petropólis, RJ: Vozes.
2017).
[7] Jean François Sirinelli,
“Osintelectuais”, emPor umahistóriapolítica, eds. René Remond (Rio de
Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2003)231-269.
[8] Carlo Ginzburg, O fio e osrastros:
verdadeiro, falso, fictício. trad. Rosa Freire d´Aguiar e Eduardo Brandão
(São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2007).
[9] Pierre
Bovet, Vingt ans de vie. L’InstitutJ.J.Rousseau de 1912 à 1932,
(Neuchâtel: Delachaux&Niestlé, 1932, 195 p). http://archive-ouverte.unige.ch/unige:36985(29 de maio de 2024).
[10] Sirinelli, op.cit, 242.
[11] Ibid, 243.
[12] Bovet, op. Cit.
[13] Édouard Claparède,« Quelques mots sur le
collège de Geneve » (Librairie Stapelmour. Gèneve, 1892), emMélanges
I (1892-1906)(Genebra: [sn], 1906). https://archive-ouverte.unige.ch/unige:75007(29 de maio de 2024). No original, “car on
tend trop à oublier que les leçons sont faites pour les élèves et non les
élèves pour les leçons”.
[14] ÉdouardClaparède.“Edouard Claparède”, em A
History ofPsychology in Autobiography. eds. C. Murchison, V. 1. (Clark University
Press, Worcester, Mars, 1930), 63-97.
[15] Certeau, op. cit.
[16] Claparède, 1930, op. cit. 93. No original,
“But the spacestill at mydisposal must beemployed in answering a few questions,
at the request of the editors of this volume. And first of all, what do I
myselfthink of my contribution to psychology ? ”
[17] Claparède,
1930, op.cit.
[18] Willian James (1842-1910) é responsável
pela primeirasistematização americana de conhecimentos e Psicologia,
aabordagemfuncionalista. Ana Mercês Bahia Bock e Odair Furtado e Maria de
Lourdes Teixeira, Psicologias: umaintroduçãoaoestudo de psicologia. 13
ed (São Paulo: Saraiva, 2001).
[19] Alfred Binet (1857-1911) foi um
psicólogofrancês que exerceu profunda influêncianaciênciapsicológica no século
XX. De acordo com Campos, Gouvea e Guimarães (2014, p. 2018),
suaspesquisasconcentravam-se “sobre o funcionamento das
funçõespsicológicassuperiores e sobre asdiferençasindividuaisnainteligência e
nosestilos de pensamentoresultaramnaelaboração de um conjunto de instrumentos
de avaliação e medida da inteligência e naproposição do conceito de idade
mental”. Ele ficouconhecido pela criação de testes quantitativos e
comparativosda inteligência, tevecomoparceiro de pesquisas o médico Théodore
Simon.
[20] Claparède,
1930, op. Cit.
[21] Oautorutilizaaexpressão “special classes
for backward and subnormal children”.
[22] Jean Demoor (1867-1941), médico,
foisecretáriogeral da Sociedade de Proteção para criançasanormais de Bruxelas e
trabalhou com Ovide Decroly (1871-1932). Segundo Van Gorp, Decrolyfoi um
psicopedagogo belga que adquiriurenomemundialcomo um dos pioneiros da New
Education Fellowship. Ângelo Van Gorp,Da educação especial à nova:
osfundamentosbiológicos, psicológicos e sociológicos do trabalhoeducacional de
Ovide Decroly (1871–1932), (História da Educação 34 (2): 135–50).https://doi.org/10.1080/0046760042000338755(29 de maio
de 2024).
[23] Bovet,
op. cit, 09.
[24] Ostermosatrasados e
anormaiscompunhamosdiscursos da épocarelativosàscrianças que nãocorrespondiam à
normalidade da infânciaesperadasocialmente.
[25] Bovet, op. cit, 09. No original, “N’est-il pas frappant de voir
que, comme à Bruxelles (Decroly), comme plus tard à Paris (Binet) et à Rome
(Montessori), ce sont à Genève aussi les enfants anormaux qui ont déclenché
dans l’espace de quelques années les courants de pensée pour la réforme de
l’école, si caractéristiques des débuts
du XX
siècle”.
[26] Jean Houssaye, “Pedagogiasimportação –
exportação”, emViagensPedagógicas, eds.Ana Chrystina Venancio Mignot e
José Gonçalves Gondra, (São Paulo, Cortez, 2007), 294 -314.
[27] Ibid,
311.
[28] Daniel
Hameline, Édouard Claparède, Coleção Educadores, (Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana,
2010).
[29] Claparède temumavastaproduçãointelectual.
Nos AIJJR, é possívelacessar um compilado da quasetotalidade de
artigospublicadospeloautor, que estãodivididosemcinco volumes e
correspondemaoperíodo de 1982 a 1932.
[30] JoëlleDroux
et al. ArquivosInstitut
J.-J. Rousseau (AIJJR): l’Éducation nouvelle enhéritage.(Hors-Texte , 2013, n° 102, 32-38). https://archive-ouverte.unige.ch/unige:86986 (29 de maio de 2024).
[31] Willian Stern (1871 – 1938)
psicólogoalemão, criador do conceito de quociente de inteligência (QI).
[32] Claparède, 1930, op. cit, 87.
[33] Ibid, 87-88. No original, “Ferriere was championing the “New School” movement;
Aug. Lemaitre was studying adolescents ; Alice Descoeudres was verifying
Binet’s tests; and the Misses Audemars and Lafendel were trying to introduce
reforms in the kindergartens, where they taught”.
[34] Rita Hofstetter, Genève: creuset des
sciences de l’éducation : fin du XIXe siècle - première moitié du XXe siècle,
(Genebra: Droz, 2010. Travaux de sciences sociales; 216),https://archive-ouverte.unige.ch/unige:20279. (29 de maio de 2024).
[35] Ibid, 07. No original, “C’est dans ce
contexte d’effervescence pédagogique, intellectuelle et scientifique que se
diffuse l’idée qu’une meilleure connaissance de l’enfance s’impose pour
améliorer les pratiques éducatives et qu’il est possible et même nécessaire de
construire à ce propos une nouvelle science ».
[36] Pierre Bovet, “Intermédiaire”, L’Intermédiaire
des Educateurs, 1, n° 1, (1912), 1–2. No original, “Son but est facile à
définir; il répond à ce 249lui de l’Institut dont il sera l’organe, dont il
constituera en quelque sorte un prolongement dans l’espace: c’est de contribuer
à l’édification d’une pédagogie positive, d’une part en initiant ceux qui
voudraient collaborer avec nous, aux questions qui se posent et aux méthodes
propres à les résoudre, d’autre part en servant de lien entre ces chercheurs,
et en groupant et coordonnant leurs investigations ou leurs résultats ».
[37] Sirinelli, op. cit.249.
[38] Bovet (1932), op. cit.
[39] No site da ETH LIBRARY, nasessão de
revistassuíças online, é possívelacessarosnúmeros da revistaL´Éducateur de 1865
a 1981. O link para acesso é https://www.e-periodica.ch/digbib/volumes?UID=edu-001.
[40] L´Éducateur. L’Intermédiaire des
éducateurs n.140. (1931), 113 https://www.e-periodica.ch/digbib/view?pid=edu-001%3A1931%3A67%3A%3A39#179.
(29 de maio de 2024).
[41] Ginzburg
(2007), op. cit., 11.
[42] Tratam-sede seis números, publicadosnos
meses de janeiro, abril, junho, julho, outubro e dezembro.
[43] No original, “Cinq jours a Varsovie ». Publicadoem 31 de janeiro de 1931;
[44] No original, “Avec les éducateurs de la
Catalogne – a l´école d´été de Barcelone“. Publicadoem 10 de outubro de 1931.
[45] No original, “Congrès International de
l´enfance – a Paris”. Publicadoem 10 de outubro de 1931.
[46] Certeau
(2017), op. cit., 183.
[47] Édouard Claparède, « Cinquante Jours au Brésil », L´Éducateur. L’Intermédiaire des éducateurs, n.140.(1931), 113 – 118. https://archive-ouverte.unige.ch/unige:129010 ,(29 de maio de 2024). .No original, “ Mon
but, en me rendant là-bas, était à la fois de faire la connaissance personnelle
d’aimables collègues que je connaissais déjà par correspondance et qui
m’invitaient à faire quelques conférences, de revoir d’anciens élèves, et tout
spécialement de rendre visite à Mme Antipoff qui avait organisé à Bello
Horizonte un enseignement de psychologie expérimentale et scolaire ».
[48] Regina Helena de Freitas Campos, Helena
Antipoff, (ColeçãoEducadores. Recife: Fundação Joaquim Nabuco,
EditoraMassangana, 2010).
[49] Ibid,
42
[50] Martine
Ruchat, “A Escola de psicologia de Genebra em Belo Horizonte: um estudo por
meio da correspondência entre Edouard Claparède e Hélène Antipoff (1915-1940)”,
Revista Brasileira de História da Educação, n.17, (2008),181-205.https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/rbhe/article/view/38583, (29 de maio de 2024).
[51] Ibid.
[52] “A próximavisita do professor
ClaparedaoBrasil”, O Jornal (Rio de Janeiro). Hemeroteca Digital
Brasileira. ed. 03628. 10 de setembro de 1930, 03.
[53] Claparède (1931), op. cit. 113-114. No
original, « Malgré l’heure tardive, de nombreux amis m’attendaient sur le
quai: M. Lins, professeur à l’Ecole normale de Juiz de Fora, et Mme Lins, qui
avaient passé plusieurs années à l’Institut J.-J. Rousseau; Mile Laure Lacombe,
aussi une ancienne élève; le Dr Lopes, président de la Ligue brésilienne
d’hygiène mentale; le Dr F. Magalhaes, et le Dr Lessa et le professeur Venanzio
Filho, présidents de l’Association brésilienne d’éducation; le Dr Radecki, qui avait
été mon assistant au Laboratoire de Psychologie en 1910, M. Redard, chargé
d’affaires de la Légation suisse, etc. C’est dire qu’à peine débarqué sur ce
continent nouveau, j’ai eu le sentiment du chez moi ».
[54] Vera Eugenia Roldán e Eckhardt Fuchs, “O
transnacionalnahistória da educação”, Educação e Pesquisa, [S. l.], 47,
(2021). https://www.revistas.usp.br/ep/article/view/190580, (29 de maio de 2024).
[55] Daise
Santos, “Mais do que ler mil livros: os significados da viagem à Europa na
trajetória de Francisco Lins (1911-1917)”, (Dissertação de Mestrado em Educação
na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2020).
[56] Sobreessaviagem, consultar Ana Chrystina
Mignot, “Eternizandotravessia: memórias de formaçãoemálbum de viagem”, Revista
Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica,02, n.05 (2017), https://revistas.uneb.br/index.php/rbpab/article/view/3964/2513, (30 de maio de 2024).
[57] Claparède
(1931), op. cit. 114.
[58] Fernando Augusto Ribeiro Magalhães
(1878-1944), cursoumedicinanaFaculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Ocupoudiversasvezes
cargos nadiretoria e presidência da ABE a partir de 1925. Carvalho (1998), Op.
cit.
[59] No original, “L’Association brésilienne d’
Education, qui avait bien voulu m’in viter à faire quelques conférences, et qui
est très active, très vivante, réunit un millier de membres; elle a pour but
d’étudier tout ce qui peut faire progresser l’enseignement, et d’engager les
autorités à introduire les réformes désirables. Elle compte quatre présidents,
qui sont en charge chacun pendant un trimestre. Sur ces quatre présidents,
trois sont des médecins. A mon arrivée, c’était le Dr Magalhaes, l’un des chirurgiens
les plus courus de Rio, et doyen de la Faculté de médecine, qui occupait le
fauteuil. Ses nombreuses occupations (il est aussi président du Jockey Club) ne
l’empêchent pas de vouer aux questions d’éducation une attention très suivie.”
[60] “Um eminentepedagogosuissohospede no Rio –
o professor Claparède, vindohontempelo ‘Conte Rosso’, concede rápidaentrevista
a O Jornal”, O Jornal (Rio de Janeiro), Hemeroteca Digital Brasileira,
(1930), 01.
[61] De acordo com Manukata, Gustavo Lessa
assumiudiversos cargos naadministraçãopública, quase sempre aolado de Anísio
Teixeira. Assumiutambém cargo naFundação Getúlio Vargas, comodiretorexecutivo e
chefe da Campanha do LivroDidático e Manuais de Ensino (Caldeme), em 1952.
KazumiManukata, “Dois manuais de história para professores: histórias de
suaprodução”, Educação e Pesquisa [online]. v. 30, n. 3. (2004),
513-529,https://doi.org/10.1590/S1517-97022004000300010(29 de maio de 2024).
[62] Marta
Maria Chagas Carvalho, Molde nacional e fôrma cívica: higiene, moral e
trabalho no projeto da Associação Brasileira de Educação (1924-1931), (Bragança
Paulista: IFAN/CDAPH/Edusf, 1998).
[63] Selma Barboza Perdomo e Ana Ana Chrystina
Venancio Mignot e Daise Silva Santos, “Do lado de cá do Atlântico: um
discípulopolonês de Édouard Claparède”, Educação, [S. l.], v. 47, n. 1,
(2022), https://periodicos.ufsm.br/reveducacao/article/view/48284(29 de maio de 2024).
[64] O Curso Jacobina, depoisColégio Jacobina,
foifundado no bairro de botafogo, Rio de Janeiro, no ano de 1902, por Isabel
Jacobina Lacombe e Francisca Jacobina Lacombe. O Colégiofoicriado com a
finalidade de atenderaopúblicofeminino e atenderàsdemandas de umasociedade que
se modernizava e exigiaumaeducaçãodiferenciada para a mulherburguesa (CARUSO,
2006).
[65] Claparède (1931), op.cit. 115. No original,
“On sent que le bonheur y règne ».
[66] A Escola Normal de Artes e
OfíciosWenceslau Braz começou a funcionarefetivamente no ano de 1919. Seu
objetivo era formarmestres e professores para atuaremnasEscolas de
AprendizesArtífices..
[67] Sobreeste Instituto, consultar o site https://www.ioc.fiocruz.br/.
[68] “O prof. Claparedevisitaa Escola Wenceslao
Braz”, O Jornal (Rio de Janeiro), Hemeroteca Digital Brasileira, Ed.
3636. (20 de setembro de 1930), 02.
[69] Claparède
(1931), op.cit. 115.
[70] RogérioCentofani, “Radecki e a Psicologia
no Brasil”, Psicol. cienc. prof., 3, n. 1 (1982), https://doi.org/10.1590/S1414-98931982000100001(31 de maio de 2024).
[71] Nascimento e Mandelbaum (2020)
apresentamelementosrelevantes para a compreensão da organização do laboratório
de psicologia da Liga no artigointitulado “A invenção da norma: a psicologiana
Liga Brasileira de Higiene Mental”. Disponívelem:https://doi.org/10.1590/S0104-59702020000500007Acessoem 21 ago. 2022.
[72] Claparède (1931), op. cit. 115-116. No
original, “L’Etat de Minas a fondé à Bello Horizonte, il y a deux ans, une
Ecole de perfectionnement, d’un type nouveau et très intéressant. C’est pour
établir les bases de cette école que s’étaient déjà rendus au Brésil, pour
quelques mois, le Dr Simon, de Paris, notre collègue Leon Walther, et que Mme
Artus et Mme Antipoff y furent appelées pour une période plus longue. Le but de
cette Ecole de perfectionnement est de former des inspectrices, des directrices
d’écoles, des professeurs de psychologie scolaire pour les Ecoles normales, des
fonctionnaires supérieurs pour l’administration des écoles de Minas. Elle
comprend cent élèves, tous féminins, et voici comment on les recrute on choisit
chaque année, parmi les institutrices ayant déjà au moins deux ans de pratique,
les cinquante meilleures. Le cours dure deux ans Il comporte des enseignements
spéciaux de pédagogie et de psychologie (jardin d’enfants, méthodologie,
surtout psychologie appliquée à la pratique scolaire). Comme professeurs, outre
trois jeunes Brésiliennes formées elles-mêmes au TeachersCollege de New-York,
Mme Antipoff et Mme Artus (de Genève),et aussi M. Casasanta, directeur de
l’Instruction primaire, qui préside aux destinées de cette Ecole de perfectionnement
avec beaucoup d’intelligence et de clairvoyance. »..
[73] Ibid, 117. No original, “la ville fut inondée
de balles ».
[74] Claparède (1931), 118. No original, “Je m’y retrouvai chez moi
heureux de ces quelques semaines pa·ssées au milieu de tànt de
choses intéressantes, de cette nature splendide, de tous ces amis, anciens ·et
nouveaux, qui m’avaient rendu si agréable mon séjour au Brésil ».
[75] “O sentimento de inferioridadenacriança”,
Diário de Notícias (Rio de Janeiro), Hemeroteca Digital Brasileira, ed.
99, (18 de setembro de 1930), 04.
[76] “O sentimento da inferioridadenacriança”,
O Jornal (Rio de Janeiro), Hemeroteca Digital Brasileira, Ed. 3635, (19
de setembro de 1930), 03.
[77] Volume V, páginas 888 a 914. https://archive-ouverte.unige.ch/unige:75013.
[78] “Conferencias do professor Edouard
Claparede”, Diário de Notícias (Rio de Janeiro), Hemeroteca Digital
Brasileira, ed. 143, (30 de outubro de 1930), 12.