Em Caxias a filosofia en-caixa? e as vozes infantis da periferia

 

Vanise de Cássia de Araújo Dutra Gomes

Doctora en Educación

Escuela Municipal Joaquim Da Silva Peçanha - Brasil

vanisedutragomes@gmail.com

http://orcid.org/0000-0001-8316-1974

 

Artículo de investigación

Recepción: 15 de diciembre de 2018

Aprobación: 31 de enero de 2019

https://doi.org/10.19053/22160159.v10.n23.2019.9688

 

Resumo

 

Nesta escrita pensamos questões provocadas pelos deslocamentos ligados a um projeto de filosofia com infâncias em uma escola pública de periferia desenvolvido no Brasil, intitulado Em Caxias a Filosofia en-caixa? A escola pública aposta no pensamento. O projeto é de extensão universitária e é desenvolvido pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro [UERJ]. É coordenado pelo Núcleo de Estudos de Filosofias e Infâncias do Programa de Pós-Graduação em Educação da UERJ, e exercitado no meu local de trabalho, na Escola Municipal Joaquim da Silva Peçanha do Município de Duque de Caxias, RJ. Aqui, tentaremos fazer uma breve incursão na experiência de viver o enigmático exercício em um território que temos apostado pensar a filosofia para fora dos muros da universidade; lugar de periferia, ali onde ela parece ter estado sempre ausente, mas que ela, ao estar presente, afirma as potentes, singulares e múltiplas vozes e pensamentos infantis de estudantes e professores de uma escola pública brasileira.

 

Palavras-chave: filosofia, infância, escola pública, experiência de pensamento

¿En Caxias la filosofía encaja? y las voces infantiles de la periferia

 

Resumen

 

En este texto reflexionamos sobre preguntas surgidas de los desplazamientos ligados a un proyecto de filosofía con niños desarrollado en Brasil en una escuela pública periférica, titulado ¿En Caxias las filosofía encaja? La escuela pública le apuesta al pensamiento. El proyecto es de extensión universitaria y es llevado a cabo por la Universidad del Estado de Río de Janeiro [UERJ]. Es coordinado por el Núcleo de estudios de Filosofías e Infancias del programa de posgrado en Educación de la UERJ, y se desarrolla en la Escuela Municipal Joaquim da Silva Peçanha del Municipio de Duque de Caxias, Río de Janeiro, mi lugar de trabajo. Intentaremos hacer una breve incursión a la experiencia de vivir el enigmático ejercicio en un territorio donde le hemos apostado a pensar la filosofía por fuera de los muros de la universidad: un lugar periférico, donde la filosofía parece haber estado siempre ausente; sin embargo, cuando está presente, afirma las potentes, singulares y diversas voces y pensamientos infantiles de estudiantes y profesores de una escuela pública brasilera.

 

Palabras clave: filosofía, infancia, escuela pública, experiencia de pensamiento

 

Can philosophy be incorporated in Caxias? and the voices of children from the periphery

 

Abstract

 

This text reflects on questions arising from the displacements associated with a philosophical project entitled Can philosophy be incorporated in Caxias? The public school bets on thinking, which is carried out with children from a public school located on a periphery in Brazil. This is a university extension project implemented by State University of Rio de Janeiro [UERJ in its Portuguese acronym]. It is coordinated by the Philosophy and Children Studies Group from the master’s program in Education at UERJ and it is developed in Municipal School Joaquim da Silva Peçanha in the municipality of Duque de Caxias in Rio de Janeiro; my workplace. We will try to make a brief foray into living this enigmatic exercise in a territory where the intention is to think about philosophy outside the university walls; a peripheral place where philosophy seems to have always been missing. However, when present, it affirms students’ and teachers’ strong, unique, and different voices as well as their thoughts on children in a Brazilian public school.

 

Keywords: philosophy, childhood, public school, thought experiment

 

La philosophie peut-elle etre intégrée à Caxias ? et les voix des enfants de la périphérie

 

Résumé

 

Ce texte propose une réflexion sur des questions issues des déplacements associés à un projet de philosophie mené auprès des enfants d’une école publique périphérique au Brésil, intitulé La philosophie peut-elle être intégrée à Caxias ? L’école publique parie sur la pensée. Il s’agit d’un projet de formation continue universitaire développé par l’Université de l’État de Rio de Janeiro [UERJ]. Il est coordonné par le groupe d’études sur la philosophie et l’enfance du programme de maîtrise en éducation de l’UERJ et il est réalisé dans l’École Municipale Joaquim da Silva Peçanha située dans la municipalité de Duque de Caxias, à Rio de Janeiro ; mon lieu de travail. Nous tenterons de faire une brève incursion dans l’expérimentation énigmatique dans un territoire où l’on vise à penser la philosophie en dehors des murs de l’université ; un lieu périphérique où la philosophie semble avoir été toujours absente. Cependant, elle affirme les voix uniques, puissantes, et diverses des élèves et des professeurs d’une école publique brésilienne ainsi que leurs pensées enfantines lorsqu’elle est présente.

 

Mots-clés : philosophie, enfance, école publique, expérience de pensée

 

Introdução

 

O exercício desta escrita se materializa no movimento de tentar pensar questões provocadas por alguns deslocamentos ligados a um projeto de filosofia com infâncias1 em uma escola pública de periferia desenvolvido no Brasil. Neste caminho, entra em jogo a ressignificação dos saberes/fazeres pedagógico de professora do Ensino Fundamental e suas relações com a escola, com os que dela participam e, até mesmo, com as próprias vidas que se afirmam ao seu redor. A escola, a sala de aula, a infância, o ensinar, o aprender, o tempo/espaço escolar que antes se apresentavam como um lugar seguro, após a chegada de um projeto de filosofia com crianças, tornaram-se territórios enigmáticos. Já não os transitamos mais com a habitual tranquilidade e certeza de antes. Já não nos sentimos tão donos deles e de nós mesmos. Assim, esta experiência com a filosofia tem nos convidado a experienciar outras formas de habitar a escola, como um convite de nos perdermos no que achávamos seguro e certo.

O projeto em questão é um projeto de extensão universitária, desenvolvido pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro [UERJ], intitulado Em Caxias a Filosofia en-caixa? A escola pública aposta no pensamento, é coordenado pelo Núcleo de Estudos de Filosofias e Infâncias [NEFI] do Programa de Pós-Graduação em Educação da UERJ, e exercitado no meu local de trabalho, na Escola Municipal Joaquim da Silva Peçanha do Município de Duque de Caxias, RJ.

Este encontro ao desconhecido, para a qual fomos convidadas a aventurarmos, a caminharmos/habitarmos de outra maneira, através do projeto de filosofia, tem nos provocado a pensar muitas perguntas sobre a escola/educação, assim como, tem possibilitado um (re)pensar sobre o que estamos fazendo na escola e da escola. Surgem pergunta como: Qual o sentido de ser professora? Que relações nós temos mantido com a escola? Que relações nós temos com o ensinar e o aprender? Seria possível ser, pensar e experimentar outra(s) maneira(s) de habitar a escola? Seria a proposta do filosofar, através da “experiência” de pensamento2, um convite potente e transformador das nossas práticas e dos nossos saberes/fazeres em relação às coisas pertencentes à escola e à educação?

Sendo assim, os saberes e práticas que tínhamos antes dos atravessamentos do projeto e que estavam fundamentados a partir de certezas sobre a escola/educação, sobre nossa prática, ou seja, sobre o modo que habitávamos a escola, foram se perdendo e convidando a nos perder, num caminho que ainda estamos trilhando.

Aqui, tentaremos fazer uma breve incursão no que tem sido a experiência de viver o enigmático exercício, inquietante e instigante, da pergunta título do projeto — Em Caxias a filosofia en-caixa? — em uma escola do município de Duque de Caxias, RJ, território que temos apostado pensar a filosofia para fora dos muros da universidade; lugar de periferia, ali onde ela parece ter estado sempre ausente, mas que ela, ao estar presente, afirma uma potência dos confins da cidade, uma vez que esse para nós tem sido seu lugar mais próprio, mais significativo, mais vital, conforme afirma o filósofo Giuseppe Ferraro como uma das vozes que dialoga no livro A escola pública aposta no pensamento (Kohan & Olarieta, 2012, p. 39). Para tal tarefa precisamos recuperar sempre dois pensamentos importantes, que para nós, que participamos do projeto na escola, têm nos deixado mais atentos no exercício de compartilhar sobre a filosofia na escola.

Entendemos que esses dois pensamentos — que podem nos ajudar recuperar e narrar algumas experiências vividas com o projeto na escola — são maneiras interessantes e potentes de pensar o encontro entre filosofia e educação em errância e de testemunhar como entendemos o inventar escola com as infâncias ao pensar nos confins da cidade onde habitam muitas desigualdades e exclusão social.

O primeiro pensamento está na afirmativa de uma aluna da escola do 4º ano, que um dia foi convidada por mim, a professora da turma, a explicar o projeto de filosofia para outros alunos que ainda faziam parte de um novo grupo que ainda não havia praticado o projeto de filosofia. A aluna, Vitória, de 11 anos, espontaneamente vibrante e falante, respondeu imediatamente que não seria possível explicar e que os colegas precisariam viver a filosofia, provocando muita curiosidade em todos. Tivemos que parar o que estávamos fazendo e realizar uma experiência de pensamento. Foi emocionante.

O que Vitória nos convida a pensar com essa sua afirmativa errante e infantil é que por mais que tentemos traduzir em palavras os acontecimentos que experienciamos no projeto de filosofia na escola, nossa narrativa sempre trará uma dimensão de precariedade e fragilidade diante da intensidade do vivido.

Por isso, tentaremos aqui recordar em palavras a força que habita o enigmático, apaixonante e potente projeto Em Caxias a filosofia en-caixa?, sem deixar de dar atenção a afirmativa de menina Vitória quanto ao inexplicável em palavras, pois está na dimensão de vivido.

A tentativa de contar sobre as experiências de pensamento e seus atravessamentos ocorridos com os participantes do projeto, até podemos narrar neste trabalho, mas sem nunca esquecemos de que uma possível dimensão suscetível de quem tenta relatar/traduzir uma experiência vivida para outrem, de uma certa maneira deixa de fora outras coisas que experienciamos naquele momento vivido, como nos fez pensar Vitória com seu singular convite de viver a experiência ao invés de explica-la.

Outro pensamento importante que precisamos recuperar aqui tem a ver com um caminhar de aproximadamente 11 anos, as potentes aproximações e relacionamentos que convivemos no projeto. São muitas pessoas, muitos estudiosos, muitos amigos, próximos e distantes, como é próprio da filosofia que nos foi apresentada e que afetivamente acolhemos. Essas pessoas amigas e interessantes nos ajudam a pensar, ler e escrever sobre muitos pensamentos, ideias, conceitos, postulados e categorias teóricas e filosóficas que circulam no campo da filosofia e da educação e contribuem de modo potente e com nosso saber/fazer no projeto.

Muitos desses amigos que possuem um modo próprio de relacionar-se, nos apresentam uma experiência singular com a filosofia, com crianças, com as infâncias, uns mais outros menos. Muitas vezes professores e alunos pesquisadores, alguns filósofos e educadores, sempre nos ajudam a pensar o que estamos fazendo com e no projeto.

Se por um lado temos muitos colaboradores que nos convidam pensar, muitas vozes que nos enriquecem os pensamentos e o estudo dos acontecimentos das inúmeras e diversas ações do projeto, por outro lado não podemos deixar de escutar e citar sempre com ênfase as vozes dos alunos, que para nós têm sido os maiores protagonistas das transformações e transbordamentos que experienciamos.

Os estudantes, crianças, adolescentes, jovens e adultos, de nossa escola, moradores de periferia da cidade, que em muitos momentos são vistos com preconceito e discriminação — muitos deles vivem em situação de extrema exclusão social, violência e pobreza — são aqueles que com as vozes infantis de seus pensamentos nos convidam de maneira potente, inventiva e errante a habitar tudo que temos pensado, dito, lido e escrito no/do/com o projeto até agora.

Conceitos e categorias da academia, temas diversos da vida e do mundo, são transformados em experiência de pensamento na nossa sala de filosofia. Provocam nos estudantes afetos e paixão pela maneira de filosofar no projeto, os quais acabam por transportar esse modo filosofante para outros espaços/tempos da escola, inclusive o da sala de aula. Esses meninos e meninas, estudantes em diversas faixas etárias, inquietos, curiosos, com muita intensidade e honestidade, sinalizam com as vozes infantis de seus pensamentos um potente exercício de habitar de outra maneira a escola pública. Essas provocações impulsionadas pelos alunos do projeto de filosofia na escola tem nos ajudado a procurar se aproximar e tentar colocar a atenção a outros possíveis sentidos do diálogo com as crianças e suas infâncias de pensamento na vida escolar.

As vozes dos alunos, com seus pensamentos infantis, sua inquietude diante do mundo, o que desconhecemos sobre elas e de nós mesmos, isso tem nos provocado uma tentativa de estar com o outro de maneira apaixonante, tentando viver traduzir o intraduzível e que provoca multiplicidades de sentidos em nossas certezas, saberes e fazeres pedagógicos. Quando nos encontramos com eles, e particularmente com os mais pequenos, vivemos um dialogar, uma conversar, que desa-loja, des-encontra pensamentos e que trans-borda a vida.

Transbordamento das vozes infantis

 

Com o projeto de filosofia na escola, as experiências de pensamento tem nos convidado a pensar para além das bordas via uma atitude de atenção, espera, cuidado e escuta das vozes das infâncias dos pensamentos dos alunos. Sempre somos convidados pelos alunos a pensar a infância não como ela deve ser, mas como ela é; suas possibilidades de, ao chegar ao mundo, problematizando-o, ou seja, criando uma imagem de ruptura, de descontinuidade, de quebra do normal e do estabelecido. Pensar, conviver e dialogar/conversar com as infâncias de pensamentos dos alunos e das alunas na escola tem nos atravessado de tal maneira que nos coloca a todo o momento numa experiência de esvaziamento das nossas certezas, provocando muitas inquietações e perguntas. Pois, dialogando com Larrosa tenho visto que

a infância é um outro: aquilo que, sempre além de qualquer tentativa de captura, inquieta a segurança de nossos saberes, questiona o poder de nossas práticas e abre um vazio em que se abisma o edifício bem construído de nossas instituições de acolhimento. Pensar a infância como um outro é, justamente pensar essa inquietação, esse questionamento e esse vazio. Esses seres estranhos dos quais nada se sabe, esses seres selvagens que não compreendem a nossa língua. (Larrosa, 2003, p. 184)

Concordando com Larrosa, a infância é entendida como outro desconhecido que desafia o poder do conhecimento e inquieta sua segurança, assim como muitos alunos, que com seus pensamentos infantis, nos convidam a ver para além do que víamos, transbordando o exercício que até ali lhe fora proposto.

Com isso, temos percebido que precisamos conviver com a infância como se olhássemos para além das bordas. Pois o que já conhecemos e assinalamos sobre a infância ainda não significa todo o saber sobre a infância como outro, mas apenas se reduz ao que já fomos capazes de submeter à lógica de nossas práticas e das instituições.

Com a convivência com os mais pequenos temos experimentado ainda mais: o abandono de pensar que estamos fazendo algo de controlado e controlável com estes seres estranhos dos quais nada sabemos. Como temos aprendido e sentido mais fortemente ao final das experiências de pensamento com os alunos e alunas da etapa da Educação Infantil, chegamos até afirmar que: “são eles que têm feito coisas com a gente”. E que coisas seriam estas pelas quais tenho sido tão tocadas a ponto de nos arrastarem para além das bordas do desenho que temos de escola, de universidade, de educação e de infância? Que espaço/tempo seria possível para que este exercício de pensamento possa se tornar permanente?

Infância de pensamento é aqui entendida como aquilo que nos acontece em qualquer etapa da vida, “como símbolo de afirmação, figura do novo, espaço de liberdade”, ou seja, é “uma metáfora da criação no pensamento; uma imagem de ruptura, de descontinuidade, de quebra do normal e do estabelecido” (Kohan, 2003, p. 116). Não seria esse encontro de mundos e infâncias uma possibilidade de dialogar, conversar, experienciar de outra maneira na escola?

É interessante que, com o projeto, na escola temos percebido que potencializar o encontro com cada um, só é possível “num mundo povoado por outros que não são como nós, um mundo de pluralidades e diferenças, e que esta condição pode possibilitar o sujeito humano, como um indivíduo único e singular tornar-se presença” (Biesta, 2013, p. 27). Tornar-se presença não tem a ver com tornar-se apenas uma autoexpressão, mas estar em relação com outros, implicando um modo de habitar, uma escuta e uma atenção, chamando à vida o que antes estava desvitalizado (Larrosa, 2008, pp. 188-191). São as experiências de pensamento, com alunos e professores, que não cessam de nos convidar a habitar lugares e tempos não vividos na escola até então, e nos apresentam modos diferentes de escutar e escutar-se sensivelmente e compor mundos.

Quando penso nesse movimento de invenção, de composição de mundos com os alunos e alunas, dentro da própria escola, penso que filosofar como experiência do pensamento tem nos possibilitado um exercício de transbordamento, tal como recordaremos a seguir, a partir da recuperação de relatos de alunos e alunas com as vozes de seus pensamentos infantis tão corajosamente nos ajudam a pensar a potência dos encontros de filosofia na escola.

A seguir apresentaremos como o ressoar das vozes das infâncias, de pensamento dos alunos, tem nos ajudado a repensar a escola e seus movimentos no interior de uma sociedade de exclusão e desigualdade social.

 

O pensar aberto de Kayque Gabriel

 

Tia, por que, quando estou aqui na escola, eu sempre penso focado no que tenho que aprender, mas quando estou na sala de filosofia, fazendo filosofia alguma coisa se abre dentro de mim, meu pensamento se abre, penso muitas coisas diferentes dentro da minha cabeça? (Kayque Gabriel, 10 anos, 2018)

O depoimento inquietante de Kayque Gabriel, de 10 anos, foi registrado numa experiência de pensamento que realizamos no mês de junho de 2018. O interessante do questionamento desse menino está em ele trazer e perceber dentro de si dois modos de habitar a escola. Um suposto modo que faz pensar focado, fixado e estático para dar conta de aprender os conteúdos e matérias escolares, e outro modo, mais aberto, mais movente que ajuda pensar muitas coisas diferentes em sua cabeça. Quando Kayque realizou essa pergunta, estávamos pensando a possibilidade de se fazer o impossível na escola, uma vez que estávamos no final de uma experiência com O menino que carregava água na peneira, texto de Manoel de Barros. Aquele menino, ali parado me olhando, com um olhar curioso, querendo continuar a conversa, tentando dar conta daquilo que vivia com a filosofia na escola, me chamou a atenção e me fez pensar em uma caixa encaixando e desencaixando. Será que estamos carregando água na peneira com o projeto de filosofia na escola? Estaríamos tentando fazer o possível do impossível? Ou seria o impossível possível? Qual tem sido a potência do projeto Em Caxias a filosofia en-caixa? Encaixar? Ou desencaixar? Desencaixar encaixando ou encaixar desencaixando?

Em Caxias a filosofia en-caixa? é uma pergunta inquietante que tem provocado muita curiosidade em muitas pessoas ao saberem da existência do projeto de filosofia na nossa escola. Algumas já querem logo de imediato responder a provocação, buscando muitas razões pedagógicas de como a filosofia pode produzir efeitos benéficos no modelo escolar da atualidade, no sentido de acrescentar novas soluções para a problemática que suspostamente produz o fracasso escolar. Outras pessoas, ao tomarem conhecimento da filosofia nas etapas da Educação Infantil, Ensino Fundamental ou na EJA em nossa escola, com muita dúvida e incomodo, questionam logo se a filosofia, “com cerca de 2600 anos por sua aparência adulta e bem constituída acabada em seus autores e respectivas doutrinas e conceitos” (Melo, 2012, p. 243), é mesmo uma atividade possível para os estudantes deste período escolar. Todavia, essa frase interrogativa não apenas serve para dar título a um projeto de extensão universitária, mas também nos convida a pensar implicações e possibilidades numa escola pública de periferia e os movimentos que nela habitam como o ensinar, o aprender, a sua estrutura, seus espaços/tempos escolares, a infância, o pensamento, a relação professor/aluno, o fazer/saber de professora, etc.

As relações tecidas no interior do projeto têm nos convidado experienciar esta e muitas outras questões de maneira mais intensa e inventiva, ou seja, os muitos acontecimentos que têm nos afetado desde a chegada do projeto, tem nos provocado tecer outro(s) bordado(s) com múltiplos fios redesenhando o nosso modo de habitar a escola e o mundo.

Este outro modo de experienciar o pensamento na escola por meio do projeto de Em Caxias a filosofia en-caixa?, para além de desafiar o caminhar de outra maneira na escola, impulsionando muitos deslocamentos, transformações e autotransformações, também tem nos convidado a repensar as relações e atividades cotidianas que são materializadas no território educativo escolar, colocando em questão nosso saber/fazer pedagógico e nos interrogando: porque fazemos o que fazemos? Por que fazemos da maneira que fazemos? Existem outras maneiras de fazer o que fazemos?

Estas provocações iniciadas a partir da pergunta Em Caxias, a filosofia en-caixa? também nos convida a nos inquietarmos sobre os possíveis encontros e desencontros, fixidez e abertura do pensamento entre filosofia e educação numa escola pública do Ensino Fundamental localizada num bairro de periferia no município de Duque de Caxias, região da Baixada Fluminense do Estado do Rio de Janeiro, uma região de grandes problemas sociais, violência urbana e exclusão da cidadania e que atualmente sobrevive sob profundo desprezo do poder público com a educação pública. E, assim como no relato de Kayque Gabriel, que tem experienciado um movimento interno, de focar/fixar ora abertura de seu pensamento com o projeto de filosofia na escola, nós participantes do projeto, professores e alunos, crianças, adolescentes, jovens e adultos, também experienciamos esses movimentos. Pois, apesar do saber fixante que a escola tradicionalmente tem sido afirmada no espaço/tempo como excelência da aquisição do saber, e que tem sofrido nos últimos anos tempos difíceis, mesmo assim, temos experienciado uma abertura interessante.

Isso se materializa ao poder viver um formato-escola com dimensão filosófica inventiva, errante e infantil contribuindo na formação de cidadão-agente e trabalhando por meio do projeto, categoria que ajudam desautomatizar o que já sabemos sobre ela em confronto com desafios sociais que exigem que o pensamento filosófico seja sempre pensamento contextualizado, preconizado no convite de participação do XIX Conferência Bienal de Filosofia para/com crianças e cidadão-agente.

Davi e a sala do pensamento

 

Outro depoimento interessante inesquecível e que nos ajuda a pensar o projeto de filosofia a partir das vozes infantis dos alunos é o relato de Davi, um menino de 8 anos, que afirmava em diálogo com os colegas e a professora em sala de aula sobre a filosofia na escola:

Lá na sala do pensamento é a fazenda e o leite produzido pela vaca é o nosso pensamento, nossas ideias. Aqui na sala de aula é o mercado que vende o leite na caixinha, por que nós fazemos as tarefas do quadro. As ideias e o pensamento de lá ajuda a gente a aprender aqui! (Davi, 8 anos, 2008)

Davi, afirma que o fazer da sala de pensamento ajuda a estudar, a aprender também na sala da aula. O menino consegue perceber e sinalizar que esta forma de diálogo, de escuta e de atenção que faz parte dos encontros de filosofia faz parte também da aula e vice-versa, e que de fato contribui não somente no aprendizado dos temas desenvolvido no projeto, mas afirma ser possível um outro modo de estudar na escola diferente do que temos exercitado até agora. E fazendo coro com Foucault, sobre outros modos errantes e inventivos do pensar na escola,

é preciso se liberar da sacralização do social como única instância do real e parar de considerar rapidamente esta coisa essencial na vida humana e nas relações humanas, quero dizer, o pensamento. O pensamento existe além ou aquém dos sistemas ou edifícios de discurso. É algo que se esconde frequentemente, mas anima sempre os comportamentos cotidianos. Há sempre um pouco de pensamento mesmo nas instituições mais tolas, há sempre pensamento mesmo nos hábitos mudos. A crítica consiste em caçar esse pensamento e ensaiar a mudança: mostrar que as coisas não são tão evidentes quanto se crê, fazer de forma que isso que se aceita como vigente em si, não o seja mais em si. Fazer a crítica é tornar difíceis os gestos fáceis demais. (Foucault, 1994, p. 180)

No fragmento, Foucault nos anima a dar lugar ao exercício do pensamento, promovendo a crítica entre as contingências e arbitrariedades que vão nos constituindo no que somos e nos convida à possibilidade de outras maneiras de ser o que ainda não fomos.

Assim como Davi que, ao se pronunciar sobre o lugar do pensar e do estudar, tendo em vista a prática do pensar que exercita na sala de filosofia, nos convida a colocar em questão o que seja pensar e estudar na escola/sala de aula, sugerindo a liberação da sacralização das verdades e certezas que tínhamos sobre o pensar e sua relação com o ensinar e o aprender.

As vozes dos pensamentos infantis dos alunos têm nos ajudado a trazer do invisível àquilo que estava fácil, repetitivo e limitado no cotidiano da nossa prática pedagógica, abrindo-nos para uma crítica no caminho da não conformação, da insatisfação, dos movimentos de aberturas do pensamento para ensaiar transformações do/no/com que estamos fazendo na escola/sala de aula.

O perguntar e perguntar-se de Juliana

 

Uma interessante recordação como provocação do projeto Em Caxias a filosofia en-caixa? está na escrita infantil da aluna Juliana, 12 anos, que participava do projeto e que no ano de 2012 teve a oportunidade de participar de um exercício de escrita durante uma experiência de pensamento, que culminou em uma coletânea de textos dos estudantes da escola que abrem cada capítulo dos livro do projeto A escola Pública Aposta no Pensamento (Kohan & Olarieta, 2012, p. 168). Assim, afirmava a menina:

A filosofia para mim é uma forma diferente de ver as coisas. Poder pensar no que elas são, de onde surgiram. Filosofia é pensamento e diálogo, é a conversa que nos faz pensar cada vez mais no “por quê?”, “o que é?”. É isso que é a filosofia para mim, na minha vida. Filosofia se resume em pensamentos e perguntas. A filosofia mudou a minha vida com certeza. Agora tenho mais interesse em pensar nas coisas, tenho mais paciência, mais calma e consigo conversar com outras pessoas sem ter vergonha, sem pensar que vão rir de mim. (Juliana Muniz da Silva Souza, 12 anos, 2012)

Nesse texto de Juliana há muitas afirmativas interessantes e inquietantes que nos possibilitariam escrever um outro texto, no entanto, gostaria de pensar aqui apenas uma afirmativa das muitas que nos chamam à atenção. Tem a ver com o modo potente da filosofia se relacionar com as perguntas. Isto porque o modo de se exercitar com as perguntas na rotina escolar está mais inclinado à busca das respostas de conceitos e verdades já sabidos e ou pré-concebidos. Ou seja, as perguntas não são um problema para quem pergunta — o professor ou a professora — por que supostamente já sabem a resposta a elas.

No entanto, o que a menina Juliana nos ajuda a pensar com sua escrita infantil e errante é uma relação com o pensar que realizamos na escola, com a filosofia a partir do movimento de perguntar e perguntar-se, podendo, junto com outros, acessar sentidos outros daquilo que estamos pensando, num jogo entre interioridade e exterioridade de nós mesmos, com outros e com o mundo que ainda desconhecemos e que se nos apresentam com muitas sombras, num sublime e infinito jogo enigmático do mundo.

Esta maneira de problematizar via um jogo de perguntar, perguntar-se, nos encontros de filosofia na escola se faz necessária. Nos inquieta e nos convida a pensar e examinar a vida que temos vivido numa perspectiva aberta, livre e sujeita a fluxos que podem não ser necessariamente agradáveis.

As perguntas devem estar sustentadas na curiosidade e no desejo de lançar-se ao desconhecido para tentar desvendá-lo, em um permanente exercício de examinar a vida, como temos buscado afirmar em conjunto com a professora e parceira na coordenação do projeto na escola, Edna Olímpia da Cunha,

Há uma frase que nos inspira e da qual partimos, muitas vezes, para convidar diferentes grupos, quais sejam professores ou estudantes, para uma experiência de pensamento. Sócrates afirma que “uma vida sem exames não é digna de ser vivida pelo ser humano”. Vida e exame, vida e perguntas estão imbricadas de tal modo que uma não podem ser pensada sem a outra. Esta talvez seja uma das dimensões mais potentes das experiências de pensamento: não permitir a separação entre perguntar e viver, viver e perguntar, entre a vida que se vive e as perguntas que temos. Também não é o número de perguntas que fazemos a questão mais importante aqui. O mais relevante, por assim dizer, são os modos através dos quais, as experiências de pensamento têm aprofundado, intensificado a relação entre as nossas perguntas e a vida que vivemos. Esse é um campo de estudos que consideramos fecundo, inesgotável, a partir das experiências com o projeto em nossa escola em parceria com a UERJ. (Cunha & Gomes, 2018, p. 58)

 

Lucas Gomes e o direito de poder mudar

 

E por fim, a corajosa voz infantil, errante e potente que gostaria de recordar aqui é a voz o aluno Lucas Gomes, 17 anos, que no final do ano de 2016, para defender a permanência da filosofia na escola, testemunhou através da escrita de um texto sua tentativa de responder a pergunta: o que é a filosofia para mim?

O texto de Lucas também nos dá muito a pensar sobre o que estamos fazendo com a filosofia na escola. Ele destaca muitos pensamentos interessantes que dariam para fazer um belíssimo estudo sobre o encontro da filosofia e as vozes infantis e inquietas que habitam com muita vida uma escola de periferia. Assim afirma em um trecho de sua escrita intensa:

A filosofia é um lugar onde se pode pensar o que jamais foi pensado, enxergar o que não é visto, escutar o que não é ouvido, mudar o que nunca pode ser mudado; o mundo, o nosso mundo. Filosofia para mim é mudança [...] Foi mudando a minha maneira de pensar, agir e me posicionar. Mudou até mesmo a minha própria vida. E para mim, mudar era muito, mas muito difícil. Porque afinal, quando se vive num aquário não existe mudança [...] E é exatamente aí que a filosofia se encaixa, a filosofia é uma porta para fora do aquário [...] uma porta para a mudança, para mudar a si mesmo e os outros, uma porta para mudar não só o seu mundo, mas também o dos outros. Escrevi para defender o mesmo lugar que foi oferecido a mim para sentar, ouvir, falar, pensar, repensar, refletir, e mudar. Escrevi porque quero defender que outra pessoa tenha direito a mudar, como eu tive. Independente de quem seja, de que cor tenha, de que gênero for, de que religião acredita, de que classe social esteja. Só quero que essa pessoa tenha essa mesma oportunidade que eu tive e que essa pessoa possa mudar o seu mundo, e talvez um dia, possa como eu, defender o direito que as pessoas devem ter, direito de poder mudar. (Lucas Gomes, 17 anos, 2015)

Deste trecho, destaco duas afirmativas interessantes que podem nos ajudar a pensar a potência do que tem sido o projeto Em Caxias a filosofia en-caixa?, que no caminhar de 12 anos nos provoca a pensar o encontro entre filosofia e educação em errância e nos desafia cotidianamente a inventar escola em cooperação com as infâncias de pensamento que habitam com muita intensidade e vida da/na/com uma escola pública de periferia.

Lucas relata de como é difícil mudar, talvez por existir uma lógica que nos impõe que para apreender o mundo precisamos estar focados, fixados e isso talvez nos transmita uma suposta segurança, como em um aquário, que protege seus habitantes das intempéries desafiadoras do mar imenso, enigmático com uma vida em movimento.

Lucas afirma que filosofia na escola foi um convite com a possibilidade de mudança. E parece que, para ele, o sentido de mudar estaria na potente tarefa da filosofia em possibilitar pensar o que ainda não foi pensado, trazendo uma dimensão de movimento, deslocamento daquilo que foi fixado pelos nossos sentidos e pensamentos e que nos impediriam de ser, pensar e experimentar outras maneiras de nos relacionarmos conosco, com os outros e com o mundo.

A outra afirmativa, ainda mais interessante e instigante, está no fato de que Lucas escreve não apenas para defender o projeto de filosofia em nossa escola, que é pública e de periferia, também escreve para testemunhar os seus deslocamentos e transformações pessoais vividos no seu encontro com filosofia, e assim defendendo como um cidadão-agente, o direito que todos e todas, quaisquer pessoa tem — independentemente de sua etnia, gênero, religião e classe social — de mudar, tendo as mesmas oportunidades que teve de mudar seu mundo.

 

Para não concluir, seguimos pensando3

 

Quando penso nas experiências de pensamento, e nos movimentos constantes dos transbordamentos no encontro das vozes das infâncias dos pensamentos daqueles que participam do projeto Em Caxias, a filosofia en-caixa? e que vêm se criando e recriando a atenção e abertura que nos ajuda a pensar outros mundos outras possibilidades de vida, penso no que temos vivido até agora na escola, na intensidade de seus desdobramentos, no que temos conquistado com o projeto de filosofia.

Isso, sempre me faz recorde-me sempre das palavras de Giuseppe Ferraro, quando em julho de 2014, em uma manhã de formação com professores e alunos e nos fazia pensar sobre os transbordamentos dos encontros com a filosofia. Ele afirmava naquele momento de modo potente que “filosofia não é fazer, é ser”4. E os encontros com as vozes infantis no projeto nos convida constantemente a repensar o que somos e outras maneiras se seguir sendo...

Temos percebido que para viver essas experiências e esses movimento de tranbordamentos não precisamos seguir na busca cansativa dos discursos que dão ênfases aos “grandes aparatos tecnológicos”, nem as “grandes propostas metodológicas” com o “selo de garantia do sucesso total”, ou mesmo de achar que estamos fazendo “coisas mirabolantes e salvacionistas” para e da escola. Temos vontade, desejo de abertura ao encontro consigo mesmo e com o outro para acolher outras maneiras de ser, pensar e experimentar a escola, a vida.

E para continuar pensando, mais uma vez recordo e reescrevo aqui algo potente que sempre me ajuda a pensar e que já escrevi e pensei em outro momento. Acolher aqui às palavras de uma figura de Sócrates: “Eu, de minha parte, apresento uma testemunha suficiente de que digo a verdade: a minha pobreza” (Platão, Apologia de Sócrates, 31c). Desse modo, penso que a pobreza evocada por Sócrates sempre me ajuda a pensar nos exercícios de transbordamentos com as vozes das infâncias dos pensamentos que temos vivido com o experienciar o filosofar na escola com projeto. Quando proponho uma relação com a pobreza evocada por Sócrates, precisamos nos aproximar do sentido de viver o exercício de uma pedagogia pobre. Sendo assim também evoco aqui uma ideia bastante semelhante, penso eu, ao convite que Socrátes nos faz, que esta afirmada na proposta por Masschelein e Simons (2014), sobre a investigação educativa:

A investigação educativa requer uma pedagogia pobre, uma arte pobre: arte da espera, do movimento, do “estar presente”. Uma arte tão pobre é em certo sentido, cega (não tem destino, nenhum objetivo, não vai a lugar nenhum, nem se preocupa com nada “mais além”, não aspira a nenhuma terra prometida). Em certo sentido, também é surda (não pode ouvir interpelações, nem serve às leis) e muda (não tem lições a dar, ensinamentos a oferecer). Tampouco oferece nenhuma possibilidade de identificação (pode-se dizer que a posição do sujeito — de educador ou aprendiz, professor ou aluno — está vazia). Nem qualquer conforto. (pp. 49-50)

Talvez esta pedagogia pobre esteja nos convidando a um esvaziamento das certezas e verdades pedagógicas para que se potencialize com os atravessamentos que temos vivido até agora, e quiçá através do convite feito também e principalmente pelos alunos e alunas. Tentarei não encerrar e continuar insistindo na pergunta que potencializa nossos encontros no projeto de filosofia na escola, que tem nos inquietado a pensar, ser e experimentar outros modos de habitar a escola: O que pode o encontro entre as diferentes vozes das infâncias de pensamento que habitam o projeto Em Caxias, a filosofia en-caixa? nos ajudar a pensar sobre o encontros dentre filosofia e educação em uma escola pública de periferia?

Referências

 

Biesta, G. (2013). Para além da aprendizagem. Belo Horizonte: Autêntica.

Cunha, E., & Gomes, V. (2018). Filosofia na escola pública: ensaiando um canto de resistência em tempos de dissolução. Em A. Rodrigues, S. Berle, & W. Kohan (Orgs.), Filosofia e educação em errância: inventar escola, infâncias do pensar (57-68). Rio de Janeiro: NEFI.

Foucault, M. (1994). Dits et écrits. Paris: Gallimard.

Kohan, W., (2003). Infância – Entre educação e filosofia. Belo Horizonte: Autêntica.

Kohan, W., & Leal, B. (Orgs). (2000) Filosofia na escola pública. Petrópolis, RJ; Vozes.

Kohan, W., & Olarieta, B. (2012). A Escola Pública Aposta no Pensamento. Belo Horizonte: Autêntica.

Larrosa, J. (2003). “O enigma da infância” en Pedagogia Profana. Belo Horizonte. Autêntica.

Larrosa, J. (2008). Desejo de realidade. Experiencia e alteridade na investigação educativa. In: Kohan, Walter; Borba, Siomara (Orgs).Filosofia, aprendizagem, experiência. Belo Horizonte: Autêntica.

Masschelein, J., & Simons, M. (2014). A pedagogia, a democracia, a escola. Belo Horizonte: Autêntica.

Melo, D. (2012). Em Caxias, a filosofia “des-encaixa”? Filosofar, experiência do pensamento e criação. In: Kohan, W. & Olarieta, B. (Ed.). A Escola Pública Aposta no Pensamento (256). Belo Horizonte: Autêntica.

 

1 O sentido de infâncias de pensamentos que habita este texto tem o mesmo sentido do conceito de infância em Kohan (2003). Ele a afirma:

Como uma outra imagem da infância, não associada a da criança em sua temporalidade linear. Mas a infância como símbolo de afirmação da figura do novo, espaço de liberdade. Uma metáfora da criação do pensamento; uma imagem de ruptura, de descontinuidade, de quebra do normal e do estabelecido.(p. 116)

Na segunda parte do seu livro Infância. Entre Filosofia e Educação, Kohan (2003) afirma: “a infância que educa a filosofia, e instaura a possibilidade de um novo pensar filosófico nascido da própria filosofia”.

2 O sentido que tentamos habitar em uma experiência de pensamento no projeto de filosofia na escola está articulado ao mesmo sentido de experiência de Kohan & Leal (2000), em Filosofia na Escola Pública, que indica um movimento que atravessa, um percurso, um caminho, uma viagem sem destino certo, com possíveis riscos e perigos. As condições para que uma experiência de pensamento ocorra de fato com autenticidade estaria no acolhimento do convite pelos sujeitos que dela participem decidam se arriscar a percorrer um caminho sem a preocupação com a chegada, com o final da viagem, mas permitindo que sua vida seja atravessada e afetada pelos encontros e desencontros de uma caminhada aberta, enigmática, imprevisível levando-o a lugares ainda não vividos ou pensamentos ainda não pensados. Para tanto, no Em Caxias, a filosofia em-caixa?, sempre preparamos uma experiência de pensamento a partir da composição alguns elementos que tem nos ajudado a evocar condições para que esta ocorra, a saber: a) Disposição inicial; b) Vivência (leitura) de um texto; c) Problematização do texto. Levantamento de temas/questões; d) Escolha de temas/questões; e) para continuar pensando.

3 Esse trecho foi reescrito tendo como inspiração o capítulo

4 Registro do meu caderno de Diário de Campo do VII Experiência de Formação do NEFI "Infâncias na Filosofia” ano 2014.