Reflexões sobre ética e razão
Resumo
A carta que apresentamos aos leitores da Revista de História da Educação Latino-Americana (RHELA), em seu 43º número, tem como objetivo fazer uma reflexão crítica sobre o sentido da racionalidade e a prática das relações éticas e políticas no mundo atual.
Caros leitores, gostaria de ter escrito estas palavras a partir do mesmo ângulo de outras versões epistolares que esta revista tem apresentado. Ou seja, de uma versão menos temerária e mais esperançosa, mas como podem apreciar, o mundo e a realidade em crise mostram-nos um quadro diferente que merece muita reflexão.
Esta não é a primeira grande crise que a humanidade viveu, mas é a que atravessa a fase da modernidade, os limites da sobrevivência. Digo isso porque toda vez que o que é racional e propriamente humano se volta contra a própria vida dos seres que habitam este planeta, eu ousaria afirmar que o iluminismo baseado na razão e no conhecimento fracassou. Embora tenham existido crises sociais e económicas, a história mostra-nos que esta, a que vivemos hoje, é uma crise de ética que atravessa as dinâmicas e os propósitos do poder e do mercado para um progresso exacerbado e forçado. Não há nada mais absurdo e contraditório do que colocar a razão ao serviço da destruição.
É um facto, vivemos na iminência do colapso e da destruição maciça dos povos, no centro dos quais se encontram três factores desencadeadores fulminantes: as alterações climáticas, as guerras que disponibilizam armas de massa letais e a fome. Em cada um destes desencadeamentos, paradoxalmente, a razão e os seus fundamentos - o conhecimento científico ou o ato irracional da ignorância - estiveram indubitavelmente presentes, fazendo da conceção humana o principal predador.