Evolução do modelo universitário da Universidad Centroamericana (UCA) da Nicarágua: entre o somocismo exclusivo e o sandinismo revolucionário (1960-1982)

Resumo

Objetivo: Examinar a evolução do modelo universitário da Universidade Centro-Americana (UCA), manifestada em sua adesão política, missão e projeção social, a fim de determinar a posição deste centro de estudos em conexão com a sociedade e os processos políticos vividos na Nicarágua durante o período estudado, especialmente a transição do somocismo para o sandinismo.

Originalidade/contribuição: A ligação entre o modelo universitário e o modelo político na Nicarágua é evidente, especialmente as transformações que surgiram com a mudança radical de um regime autoritário para um governo revolucionário. Além disso, é oferecido o estudo de uma universidade privada, um escopo original, já que a maioria dos estudos sobre educação superior centro-americana se concentra na análise de universidades estatais.

Método: A análise de conteúdo foi aplicada a documentos oficiais emitidos pelas autoridades da UCA, artigos publicados em revistas culturais de intelectuais ligados à UCA e à legislação produzida pelas autoridades nacionais sobre políticas de educação superior.

Recolha de datos: Foram revistos os números publicados durante o período de estudo do Encuentro: Revista Académica de la Universidad Centroamericana e Revista del Pensamiento Conservador. Paralelamente, foram consultadas as Aulas Inaugurais e Relatórios de Trabalho da Reitoria da UCA. Além do Diário Oficial da Nicarágua e decretos da Junta Governamental de Reconstrução Nacional (JGRN).

Conclusões: No início da UCA, durante o Somocismo, identifica-se um discurso católico conservador, de corte humanista e revalorização nacionalista. Fica claro o discurso anticomunista de suas autoridades e a intenção de se opor a um sistema de pensamento cristão como alternativa ao materialismo ateu marxista. A intenção é promover um sistema de valores católicos para a aplicação da política desenvolvimentista, humanizando a sociedade. Na década de 1970, nota-se uma postura mais crítica em relação à questão social e os intelectuais da UCA apelam para um cristianismo mais ativo que busca transformar a sociedade nicaraguense a partir da análise dos problemas nacionais. Com o triunfo do sandinismo em 1979, o discurso da UCA identificou-se com o projeto revolucionário, afirmando a sua missão como instrumento de criação do “homem novo” e colocando professores e alunos ao serviço dos interesses da revolução.